terça-feira, janeiro 31, 2006

Simplesmente feliz

Uma nuvem de paixão. Uma imensidão de sentimentos percorre-me. Sinto-me bem. Sinto-me verdadeiramente feliz. Como já há bastante tempo não sentia. E por alguma razão (que não sei bem explicar) apetece-me gritar aos quatro ventos. Apetece-me explodir de alegria e aproveitar cada segundo deste estado de espírito que me invade.
Dizem que sou romântica. Não o nego. Não o menosprezo. Agradeço esta característica que me faz ver as coisas de um outro modo. Não sei ser de outra forma. E sei que esta parte de mim não vou (nem quero) mudar. Sei que nem sempre é bom mas no fim…vale sempre a pena. E sinto isso. E isso faz-me feliz.
A simplicidade das mais pequenas coisas tem-me mostrado que na vida é esta mesma simplicidade que devemos preservar. Podemos idealizar mas não nos devemos deixar consumir por essa idealização. Podemos querer que seja de outra forma. Podemos querer mudar tudo. Podemos tudo, mas muitas vezes o que mais queremos está naquilo que não achamos ter valor, naquilo que pensamos não ter sentido. Mas tem.
Procurar na simplicidade a felicidade. Não é contentarmo-nos com pouco. Mas sentirmo-nos verdadeiramente felizes por ter aquilo que mais queremos junto de nós. E dar-lhe valor. Estará a fazer algum sentido aquilo que escrevo? Quero pensar que sim. E quero sentir que cada palavra vos dá um pouco mais de mim. Que em cada palavra que escrevo vos mostro um pouco mais do cantinho que guardo em mim.
E quero que a voz da felicidade chegue até vocês. Para que sintam também a minha felicidade. Que é também vossa. Porque a felicidade não é um bem que se possua individualmente. É construída. E não é fácil juntar todos os pedaços. Mas essa é a sua magia. E aquilo pelo qual luto. Por isso me sinto feliz. Porque sou todos vocês num só cantinho do mundo. O meu mundo. Que vocês ajudaram também a construir. Obrigada.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Floco de neve

E de repente, o país cobriu-se de neve. Os carros ficam brancos, as estradas escorregadias, as mãos geladas. O fascínio de umas horas diferentes, em que algo de inesperado nos assalta o pensamento (ou a sua ausência).
A neve cai. Faz frio. Os pés como que encolhem à procura do aconchego. Mas está tudo frio. Não sinto o rosto, os olhos custam a abrir. E quem diria que ia ver neve antes de voar até Itália? E logo o coração aperta. Itália…Itália (oiço-te logo a bater).
E o frio passa cá para dentro. A ânsia mistura-se com a saudade que vou ter (já tenho) de tudo o que se vai passar. De tudo o que vou perder. Não total, mas parcialmente. A vivência. O incógnito.
Neva dentro de mim. E sinto cada floco de neve a derreter, a escorregar pelo meu corpo, a gelar cada bocadinho do meu ser. Não que Itália vá ser “fria”, mas sei que vou estar um bocadinho menos quente. Talvez o calor que mais falta me faz. A certeza.
O sol espreita por detrás das nuvens carregadinhas de frio. Os raios surgem, a pouco e pouco. O gelo derrete. Sinto-o no corpo. O sol aquece o dia. E fico menos gelada. Não totalmente quente. Há-de ser assim em Itália. Quente, mas não totalmente. Fria, mas não completamente. Os raios de sol espreitam. O voo está quase a partir.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Amar.


Fomos à praia naquele dia e observámos o pôr-do-sol juntos, mais uma vez mas, agora, com saudades. Deixámos marcas na areia, como um testemunho de um laço que ali passou, devagarinho, sem tropeçar.
E as ondas daquele mar que tanto respeito estavam zangadas e batiam forte contra as rochas, que tantas vezes amenizam a sua raiva. E nós ficámos a observar cada pormenor deste semblante maravilhoso e especial. Porque esta praia será, sem dúvida, a nossa praia de sempre, para sempre.
As mãos entrelaçavam-se com amor, dos nossos olhos uma cumplicidade distinta sobressaía, desprezando o que nos rodeava. Estávamos só nós e, ali, naquele momento, só o “nós” interessava, só o “nós” nos fazia ser felizes. Limitávamo-nos a sentir o que dali provinha, uma magia que nos encantava, um pôr-do-sol esplendoroso que estava em sintonia com a nossa paixão. Quantas vezes penso se a paixão ainda existe…Mas há momentos em que essa pergunta se esvanece e se vai embora com o vento, com os olhares de cumplicidade. Porque nesse momento eu sei. Tu sabes. Vivemos um para o outro. Independentemente de tudo o resto. O mundo está lá fora e nós vivemos nesta pequena concha que nos protege, não de tudo, é certo. Mas não nos pode proteger de tudo, só daquilo que receamos: perdermo-nos um do outro.
Disso ela protege-nos, o mar protege-nos, aquele pôr-do-sol protege-nos. A nossa troca de olhares garante-nos a permanência. Garante-nos a necessidade de amar. O conforto de um amor que não é simples. Não é fácil. Não é perfeito. Mas o amor não é nada disto. Como todos nós, o amor é complexo, o amor é difícil, o amor não é perfeito. Porque somos nós que o construímos e somos nós que o alimentamos. A ilusão da perfeição é apenas isso, uma ilusão. A nossa batalha está em procurar melhorar a cada dia que passa, procurar amar mais a cada dia que passa, procurar ser o melhor possível. Assim será também o nosso amor, não perfeito, mas o melhor que temos dentro de nós, o melhor que podemos e queremos oferecer.
E continuamos a caminhar na areia, a sentir aquela “comichão” que nos faz correr o sangue pelas veias. Caminhamos a contemplar o pôr-do-sol e vêmo-lo a descer, a desaparecer, a dizer “adeus, até amanhã”. Mas não queremos que ele parta, porque também um pouco da nossa magia parte com ele. Porque é com ele que somos um bocadinho mais felizes, é com ele que damos um pouco mais de nós. Ficamos, assim, com a praia, com as ondas furiosas, com as rochas, com as conchas.
Ficamos connosco. O olhar de cumplicidade. O desejo de um amor ainda maior. Um amar sem medidas, sem limites. Amar sem ter medo de cair, sem pensar, sem dor. Porque o momento é importante e deve ser vivido da melhor maneira. Eu quero e vou fazê-lo. Como disse, o novo caminho está traçado e é contigo. Porque sem ti, a praia faz menos sentido, o pôr-do-sol perde um pouco da sua magia e, sem ti, o “nosso” amor passa a ser só meu. Hoje, sei que não será assim. Que o nosso amor é nosso. Nosso. Não meu.
Fecha os olhos. Eu estou aqui. E deixo-te um beijo para que acredites. Amo-te.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Folha de papel

O meu coração é uma folha de papel. Nela vou escrevendo pequenas estórias que me deliciam o espírito e que me atormentam a alma. Nela vou-me descrevendo em pequenas peças de um puzzle que procuro acabar, mas do qual falta sempre um pouco.
Não costumo ser muito optimista mas quero mudar isso. O pessismismo põe-me doente. Faz-me mal. E eu quero estar bem.
A folha de papel está a olhar para mim. Exige atenção. E eu quero dar-lhe atenção. Quero acariciá-la como se ela me espelhasse um pequeno sonho, cheio de grandes alegrias.
A folha de papel está cheia de rascunhos. Pedaços de tantas outras coisas que não deviam estar lá. Mas estão.
Vou apagá-las e recomeçar a escrever. Sem sombras, sem duplos sentidos.
Escrever contigo. Partilhar contigo. Um céu estrelado cheio de mil rabiscos que invadem este meu cantinho e me preenchem um pouco mais. Porque tu és assim.
Porque o novo caminho está traçado, está escrito. E é contigo.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Sentir

Suspiro ao de leve. Contenho a respiração. Procuro ar.
Ar livre. Ar puro. Ar simples. Ar aconchegante.
Escrevo e parece que não me entendo. Mas quero escrever. Porque preciso.
Talvez haja uma razão para escrever assim sem nada dizer. Mas também não quero falar.
Escrever basta. Já me sinto melhor. E ainda não disse nada.
Confuso?Para mim já não.
Paro para pensar. Esclarecer. Desmistificar algo tão simples.
Vou. Quero. Consigo.
Um ponto final nesta história que não está mais presente em mim.
Finalizar algo que não me vai atormentar. Porque já não atormenta.
Não procurem perceber. Não quero que percebam.
Quero apenas escrever. Escrever sem fim.
Deitar, a pouco e pouco, o que tenho cá dentro.
Aproveitar o que é bom. O resto deito fora.
Já o utilizei. Já não preciso mais.
E se precisar, hei-de ter sempre a minha memória.
Quero "pôr quanto sou no mínimo que faço", como diria F. Pessoa encarnado no seu heterónimo Ricardo Reis.
E como ele escrevia tudo tão claro. Tão nítido. Tão simples. Como o ar que procuro.
E como ele escrevia tudo tão abruptamente. Como se rasgasse os sentimentos. Como se aspirasse ser a brisa, mas só se contentasse em ser o vento. Porque ele escrevia tudo de uma maneira que eu nunca conseguirei escrever.
Mas continuo a escrever. Não quero ser o Pessoa. Mas gostava de, por um dia apenas, conseguir o que ele conseguiu.

Passagem das Horas
"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que quero.
(...)
Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira."
Álvaro de Campos

Porque assim é tudo mais fácil.
Sentir tudo.
E não sentir nada.
Acabei de escrever. Pouso a caneta.
Adormeço.
E sinto tudo.