quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Instantes

Chave na mão. Senta-se ao volante. Chave na ignição. A mala, atira-a para cima do pendura.

- Não, hoje não levo a tua mala ao colo.

(A mala é gentilmente atirada para o banco detrás)

- Os homens queixam-se todos do mesmo.

- Por que é que com um carro de quatro lugares eu tenho de ir com a tua mala ao colo?

(Eu diria que a mala poderia ir no chão. Mas é nova! Será que os senhores conseguem perceber esse pequeno e grande pormenor? Quando ela já estiver velha, suja e pronta para ser posta de parte, pode ir para o chão. De outra forma, NÃO!)

(obrigada.)

:)

Bater à porta

Há dias assim. Em que o coração bate mais forte. O sangue corre mais depressa nas veias. Há uma sensação incómoda. Ansiedade. Nem sempre má. Os motivos não são maus, é verdade. Mas há incerteza. Há uma segurança interior que não se quer quebrar, na qual se acredita. Há valores e princípios intrínsecos. Ainda bem. Há pormenores que se tornam isso mesmo, pequenas coisas. E há gestos, momentos, tensões, que valem por muito mais. Há o arriscar, o querer mais, o desafio. A vontade de voar. De querer ser mais. Mais livre. 

Haja o que houver, valeu a pena viver estes momentos.  Eu vou estar aqui. Isso é certo. Posso ser isto, ou ser mais. Mas não vou sair daqui. Porque há valores. Há princípios. E esses eu não desprezo. Esses valem muito mais. 

E a vontade de sonhar, essa, não a perco nunca.

domingo, fevereiro 08, 2009

Baú

Escrevo em pequenos blocos. Em cadernos. Em folhas de rascunho. E quero guardar tudo. Eu, pelo menos, tenho aversão a deitar palavras para o lixo. Não gosto. Hoje pus-me a pensar por que razão o faria. E percebi que gosto de recordar. Gosto de remexer as coisas antigas e reviver um pouco aqueles momentos, aqueles instantes. Porque na correria da vida, às vezes, os pequenos pormenores escapam-nos. Os gestos que, inconscientemente, acabaram por nos influenciar.

Eu sou assim. Gosto de sorrir enquanto releio uma frase ridícula. Gosto de chorar enquanto viajo pelas memórias da faculdade, pelos tempos em que ainda não sabia escrever. Gosto de remexer no baú dessas memórias. E, por isso, não gosto de deitar nada fora. Tenho livros de mensagens - inúmeros - quando o telemóvel só tinha memória para 15. Tenho diários à solta numa gaveta. Tenho livros de poemas infanto-juvenis que hoje me parecem estranhos. Tenho palavras soltas em livros dispersos. Tenho as notas. Mas são as minhas palavras. E sei exactamente a que se referem. É bom este sentimento de pertença.

E esta, é outra das razões porque guardo tudo o que escrevo. Hoje, pus-me a pensar, o que acontecerá a tudo o que eu for escrevendo e guardando ao longo dos anos. As pequenas divagações, os poemas de adolescente, os dizeres de amor, as pesquisas, as notícias, as notas. E pensei que seria maravilhoso, daqui a 100 anos, ter um familiar a remexer no meu baú. Naquele que vou deixar com todas as minhas palavras guardadas. 

E ele não vai saber a quem ou a que é que determinadas palavras se referem. Não vai saber para quem foram escritas, com que intenção, com que intensidade. Com que entrega. Provavelmente, nunca irá puder falar comigo. Mas quando remexer as minhas palavras, vai saber que são minhas. E poderá construir-me a partir daqueles fragmentos. Poderá desvendar um pouco mais de mim. Não tenho a ambição de ganhar qualquer Prémio Nobel. 

Basta que alguém me encontre no baú. E não deixe morrer as minhas palavras. Para que eu também fique por cá.

domingo, fevereiro 01, 2009

Aqui

- Foi assim que mudei. Que cresci.

- (Ciúmes.)

- Não te assustes com aquilo que te contei.

- (Não. Só queria ter lá estado.)

- Foi só para desviar a conversa. 

- (O que eu queria era ter dado esses passos contigo.)

- Gosto destes momentos.

- (Tu não choraste. Eu fiquei a ver as lágrimas a escorrer pela face. Pela minha face.)

- Até já.

- (Até já. Quando o que eu queria era que hoje pudesses ficar.)

- (Fiquei aí.)