sábado, outubro 29, 2011

De autocarro

Viagem de regresso num qualquer autocarro londrino.
Escolho não subir as escadas e sento-me à janela, mais perto da rua e dos cheiros.
Dizem-me "estás a ser demasiado exigente" e penso que se calhar até estou e não dou por isso.
Que devia deixar que me agarrassem e levassem para qualquer outro lado.
Mas depois, no final de um dia de trabalho, encontro-te.
No autocarro, senta-se agora um homem perdido no mundo do álcool. Os cabelos brancos e o olhar vazio. Fala sozinho, adormece, quase que se encosta ao meu ombro.
Mas só consigo pensar que nem sempre é mau gostarmos das coisas difíceis e complicadas. Dá mais trabalho, implica mais determinação. Só consigo pensar que até te acho piada.
Que podias ser um desafio. (Não estou a pensar em como ele daria tudo para me adormecer. Não estou a pensar nisso, porque é fácil).
Mas quando abro a porta de casa, inevitavelmente, o vazio passa para mim. Trouxe um bocadinho de ti comigo naquela noite, mas não o suficiente. Sim, é mais aliciante quando as coisas se tornam complicadas.

quinta-feira, outubro 27, 2011

Daqui para aí

Hoje, estou em modo "podia estar aí".
Quero escrever sobre as ruas de Londres, sobre o meu bairro e o mercado de fruta. Quero escrever que a palavra que mais oiço durante o dia é "sorry" porque há sempre alguém que vai contra alguém. Quero contar sobre a forma como, tal e qual uma criança que descobre um novo brinquedo, olho em volta para descobrir um pormenor, e outro, e outro. E nunca tem fim.
Quero falar sobre o sol que ainda não se escondeu. Sobre os 30 graus que fizeram quando eu quase só trouxe roupa de Inverno. Falar sobre as raposas que passeiam ao pé do meu prédio, sobre os pombos que se escondem nas janelas.
Quero escrever sobre a minha casa nova, o meu cantinho. Quero escrever sobre os meus recantos e os meus novos refúgios, sobre como aprendemos a (re)começar. Sobre como aprendemos a valorizar as pequenas coisas.
Quero escrever sobre o rio, o cheiro do rio. Que não é o meu, mas que ajuda a matar saudades.
Quero escrever sobre o novo trabalho, que nada tem a ver com jornalismo. Quero explicar que trabalhar num restaurante nos pode dar mais qualquer coisa. Uma aprendizagem.
Quero conseguir explicar como a informação corre a uma velocidade estonteante. E quero escrever que me fazia falta este estímulo, esta vontade de querer mais. De mostrar que sou capaz. Quero escrever sobre isso. Mas não vai ser hoje.

Procrastination. Maldita.
Eu pensava que era um mal daí. Mas também é daqui.
É muita coisa a acontecer.
E eu quero escrever sobre tudo.
Mas agora, fiquei sem tempo.