quarta-feira, novembro 23, 2011

É só mais uma.

Os olhos estão carregados de olheiras. "Mais pequenos do que o habitual", dizem-lhe. E não é aquele cansaço psicológico a que ela se habituou e com o qual convive sem problemas. Desta vez, o corpo está magoado. Pede descanso, grita, mas ela decidiu que não vai ceder.

Não. É como resignar-se. Não vem no dicionário que foi contruindo ao longo dos anos e muito menos faz parte das entradas incluídas no novo acordo ortográfico. Rewind, one step back. Como começa, como acaba. Numa qualquer composição de sons e de melodias breves que se pôs a ouvir de manhã, quando olhava para as árvores quase sem folhas e sentia na pele a humidade do nevoeiro. Franzia a testa, aconchegava-se no robe e voltava para dentro.

Hoje, mas só por hoje, enfia a cabeça na almofada e espera que ele a acorde com um beijo. As olheiras não vão desaparecer, ela sabe. O cansaço muito menos. Está consciente disso.
Basta-lhe o beijo. Porque, às vezes, é o suficiente para mandar embora o cansaço.

Vem depressa, pede ela. Só por hoje.

terça-feira, novembro 08, 2011

Da sensação de estar

Hoje, Londres faz jus à fama. O céu cinzento, neblina carregada, o cheiro do alcatrão húmido na rua. Decidi sair de casa, pôr fim à preguiça de um dia dedicado inteiramente a tratar de mim.
No chão, as folhas queimadas, laranjas. As rajadas de vento levam-nas sem piedade para qualquer outro canto da cidade. Até serem varridas para dentro de um qualquer contentor, com ainda menos piedade. E com elas, o Outono começa também a dizer adeus. Mas não para já.

Entrei na coffee shop do meu quarteirão, uma pequena salinha amorosa, com sofás, jornais e pormenores deliciosos. Ah, e uma música que nos faz sentir em casa. Não sentia isto desde que cheguei. O aconchego, o estar de ombros relaxados a procurar palavras em folhas de papel cinzentas e usadas por todos aqueles que aqui passaram hoje e que também procuraram as suas próprias palavras.

E o que me apetecia fazer agora? Chorar. Estranho, não é? Como o estado de espírito muda tão rapidamente de um dia para o outro: ontem apetecia-me chorar com saudades, acentuadas por uma dor no pescoço que me deixou vulnerável. Hoje, sentada neste café, com as persianas semi-abertas, olho lá para fora (já noite cerrada) e observo os faróis dos carros, as rodas das bicicletas, as pessoas que percorrem os passeios. Hoje, sinto-me bem. Revitalizada. O choro é fruto de qualquer outra coisa que não tristeza.

E se me perguntarem porquê? Tentei procurar as palavras, mas não as encontrei. Sei que me senti assim, no preciso momento em que me sentei no sofá e me transportei para outro sítio qualquer. Acho que foi da música, das velas, das cadeiras, das mesas, do conforto.

Andava à minha procura aqui. E encontrei-me.
O tempo lá fora? Nem dei por ele.
Pode dar-se que me esteja a apaixonar por ti.
Daqui a seis meses voltamos a conversar.