quinta-feira, janeiro 19, 2012

Pedra basilar

Era um dia como qualquer outro. Ou melhor, um sábado como qualquer outro. Tinham almoçado e iam todos juntos à praia. O pai foi buscar o carro à garagem - como fazia todos os dias. O mais velho entrou para o carro, a mãe ficou a fechar a porta à chave. O mais pequeno, como sempre nos últimos meses, estava na fase das corridas e perseguições. Mas, naquele dia, ao contrário dos outros todos, fez aquilo que as crianças tantas vezes fazem: distraiu-se.

Num adeus prematuro. Naquela noite, uma expressão contou-me aquela história em três segundos. Cantava para todos os que o queriam ouvir, e perceber. Compreender. Naquela noite, cantava para ele, com uma voz que chegava lá acima. Pensava naquele sábado, igual a todos os outros, que acabou de forma trágica. Mas olhou para ela - 'uma força da natureza' pensou ele tantos dias antes de adormecer - e sorriu.

Os anos passaram. Ninguém saberá tão bem como ele o que lhe passa pela cabeça quando canta com tamanha vontade. Podia derrubar ventos. Ninguém pode se quer começar a imaginar. Foram segundos. Que mudaram vidas. Canta para que lhe agradecer o amor. E aquela voz esta para além de todas as corridas e perseguições.

Hoje, se ele o pudesse ouvir, não haveria como se distrair. Ele pensa nisso todos os dias. E nela, da urgência de lhe sentir a respiração antes de adormecer.