terça-feira, junho 19, 2012

Flagrante

Era uma daquelas noites de Verão. Janela aberta, a pele a pedir mais calor, entre os lençóis que descansavam no fundo da cama. Ela deitou-se, sem esperar.

Acordou com o barulho da fechadura, lenta. Naquele dia, os 30 graus que descansavam ao luar pediam mais. E ela voltou a acordar, desta vez com a mão dele a percorrer-lhe as costas molhadas. Beijou-a. Ao de leve. Assim como ela gostava que a acordassem a meio da noite.

Pôs o iTunes a tocar. António Zambujo, "Flagrante". Lá fora, o calor inundava a Bica. O barulho daquela noite de Sábado era diferente de todos os outros. Sorrisos, suspirando-lhe ao ouvido. As roupas estendidas continuavam ali, olhares permanentes sobre as ruas de Lisboa.

Ele voltou a beijá-la. Ela retribui-lhe o beijo. Perguntou-lhe: "Quando regressas?"

Ele não respondeu. Voltou a beijá-la. Fizeram amor até ao amanhecer. E, já de manhã, quando as gaivotas anunciavam a aurora à beira Tejo, ele disse-lhe: "Lido bem com a tua vida sem mim, não lido bem é com a minha sem ti".

E, a partir daí, ela sabia que ia ser sempre assim. Que ia sentir sempre a falta do amanhecer ao seu lado. Foi sempre assim.

"Pedaço de mau caminho,
Onde é que eu tinha a cabeça
Quando te disse que sim?"

Flagrante.