Naquela igreja, quente, não conseguiu fixar o olhar em mais ninguém. Apenas naquele olhar, no qual as lágrimas começam agora a brilhar. Não está à vontade, o olhar perdido. Quer o abraço que já não pode ter. Continua a olhar, para cima, para alguém que já não está cá. Cabelos encaracolados, negros. Bem negros. Talvez tenha catorze anos. Pode até ter dezasseis. Vinte. Aquele olhar tem cinco, quatro, três. É um olhar de criança perdida, de saudade dos tempos de infância. De quem procura desesperadamente conforto. Algum mimo.
Sim, é Natal. Mas não tem a ver com isso. A perda é recente. E deve doer. Dói. Porque agora deixa que as lágrimas escorram pela face, encosta a cabeça a um ombro amigo. Não seria aquele que procurava. Nem se quer era o ombro que queria.
Gostava de ter tido coragem para lhe dar um abraço. Para lhe dar força. Para que o conforto que ela procura pudesse ser minimizado. Mas limitei-me a olhar. E a chorar também. Arrependi-me de não lhe ter dado um pouco do que tenho. Mas aquele olhar, perdido. Aquele olhar, de criança. Está cravado em mim. Um nó. Bem forte.
Desculpa.
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