quarta-feira, novembro 30, 2005

Tempo

Hoje sinto-me triste. Triste e cansada. Cansada mas com vontade de fazer sempre mais alguma coisa. De fazer algo que sei que já devia ter feito. Devia mas não fiz porque o tempo é escasso. Ai, a velocidade a que corre o tempo nesta cidade.
Nestes dias apetece-me fugir para o pé do mar. Sentir a areia. Sentir o vento a bater-me na cara para me acordar e me dar força. Força para combater os prazos, as datas, os mails, os faxes, os telefonemas. É querer gritar para que todos me oiçam mas nem sequer ter tempo.
Hoje estou chateada. Vejo o tempo a passar e sinto que o devia estar a aproveitar melhor mas cada vez que penso nisso...não dá!Maldito tempo. Amanhã o dia vai ser diferente. É o que espero e é por isso que luto. O tempo vai passar mais devagar e vai parar de me sufocar. Parar.
Hoje não estou definitivamente nos meus dias. Já devia ter aprendido que não devo esperar muito de certas coisas, mas custa-me ter que aceitá-las como são. Porque não sou recompensada quando o esforço é tão grande. Para quê? Maldito tempo. Vou-te pôr de parte, guardar-te numa gaveta e esquecer-te por esta noite. Tentar esquecer-te.
Amanhã já sei que vou acordar contigo. O despertador vai tocar e lembrar-me que preciso de acordar porque senão não tenho TEMPO (e lá estás tu outra vez) para fazer tudo o que tenho a fazer. E no fim, por abdicar de tanto, esperar ser recompensada.
Sabes o que é pior?É que até para saber se sou ou não recompensada vou ter que esperar algum TEMPO (e continuas comigo).
É só um desabafo de um dia menos bom.

sábado, novembro 19, 2005

Velhice

Hoje estava a estudar no meu quarto. De repente, oiço um pedido de ajuda. Era a minha avó. Estava-se a sentir mal e acabou por desmaiar. Tentei ampará-la mas não cheguei a tempo. Por sorte não se magoou. Tentei dar-lhe algum conforto mas estava apática, sem forças para se tentar levantar. Gritei.
A minha mãe chegou logo a seguir ao ouvir o meu grito. Tentámos as duas levantá-la mas nada. Sem forças. Sem conseguir. "Sabem o que isto é?É a velhice", dizia ela. Entristeci-me com a ideia. Algum tempo a fazer um compasso de espera e lá se levantou, devagarinho, sem pressas. Sem pressas porque parece que já nada a faz ter vontade de "correr".
Aconteceu à minha avó. Mas estava lá eu. Estava lá a minha mãe. No entanto, penso em todos aqueles velhinhos que estão sós, cara a cara com a solidão. Sem ninguém para os amparar caso lhes acontecesse o mesmo. Entristeço-me de novo. Quantos não estarão sem ninguém que os conforte? Quantos pedirão que seja o último dia? Quantos terão algo que os faça "correr"?
Entristeço-me. Revolto-me.
Não percebo a desumanidade de alguns filhos quando abandonam os pais. Como se fossem animais (e até isto é desumano). Deixá-los a mercê de qualquer um, ou mesmo de ninguém. O abandono. A solidão. A tristeza.
Não quero compreender quem o faz. Não consigo. Entristece-me. Revolta-me. É urgente não compreender.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Cidade grande

Estou de volta de Lisboa. A cidade que me acolhe na semana atarefada. Muitas vezes, a semana na preguiça, da paródia, do convívio. Ultimamente, atarefada.
Todos os dias percorro o mesmo caminho casa-faculdade. Encontro milhares de pessoas diferentes. Cruzo-me com elas. Digo bom dia, ou talvez pense que digo. E escondo o pensamento atrás de mil correias típicas de uma cidade grande (digo bom dia, não digo...). No metro, trocam-se olhares receosos. Todos têm medo de fixar o seu olhar naquela pessoa. É incómodo. Mas porquê?
A troca de olhares. O receio. O confronto. Procuramos descobrir através do olhar se aquela pessoa será feliz. Se terá desgostos. Mas as pessoas escondem-se. Não permitem. É a cidade grande. O medo. Saio do metro e vou de encontro a outro mundo: a faculdade.
Aqui, encontro amigas e amigos. Porque o são de coração e eu sei disso. Porque não há medo na troca de olhares. Porque me dão sem medo e recebem sem medo. Poderia inumerar-vos mas não valerá a pena. Pois não existe medo da rejeição e todos sabem porquê. Os sorrisos e as conversas. As lágrimas e o silêncio. E porque não o inverso? "Tocam" em mim e eu deixo porque confio, porque acredito.
Acredito e quero acreditar em mais ainda. Fazem-me falta. Não quero ser uma pessoa da cidade grande. Quero-vos sempre comigo. Juntas seremos a cidade grande. A que não tem medo. A que sorri. A que acolhe. A que nos deixa olhar. A que nos deixa ser nós próprios.
Obrigada.
Lisboa: porque te quero.

sábado, novembro 12, 2005

Escuro/Claro

Pensei em iniciar este blogue com uma descrição daquilo que sou e daquilo que me caracteriza. No entanto, decidi deixar essa parte para cada um de vocês descobrir à medida que as minhas palavras se desenrolarem neste fio instável que surge dia após dia.
Hoje o dia está escuro, um pouco como me tenho sentido. Talvez nos últimos dias a minha vida se tenha tornado um pouco mais clara, menos escura, mais para o cinzento. Sinto que uma nova etapa está prestes a começar e que irei deixar para trás algumas coisas.
Abri a janela e senti uma brisa...O Inverno a aproximar-se, um frio mais escuro, uma brisa mais carregada. Sorrio e penso nesta nova etapa...o escuro, o claro, o Inverno...a nova etapa!Anseio a mudança e espero poder sorrir, mais do que ultimamente o tenho feito. Para ti, um beijo!

Tudo

E enquanto te afastavas...
Foi escurecendo em mim...
E quando já nada restava de ti para eu contemplar...
Tudo o que me rodeava era madrugada...
Quando tudo o que eu queria era a tua luz!

5-7-05