Escolho não subir as escadas e sento-me à janela, mais perto da rua e dos cheiros.
Dizem-me "estás a ser demasiado exigente" e penso que se calhar até estou e não dou por isso.
Que devia deixar que me agarrassem e levassem para qualquer outro lado.
Mas depois, no final de um dia de trabalho, encontro-te.
No autocarro, senta-se agora um homem perdido no mundo do álcool. Os cabelos brancos e o olhar vazio. Fala sozinho, adormece, quase que se encosta ao meu ombro.
Mas só consigo pensar que nem sempre é mau gostarmos das coisas difíceis e complicadas. Dá mais trabalho, implica mais determinação. Só consigo pensar que até te acho piada.
Que podias ser um desafio. (Não estou a pensar em como ele daria tudo para me adormecer. Não estou a pensar nisso, porque é fácil).
Mas quando abro a porta de casa, inevitavelmente, o vazio passa para mim. Trouxe um bocadinho de ti comigo naquela noite, mas não o suficiente. Sim, é mais aliciante quando as coisas se tornam complicadas.