terça-feira, novembro 28, 2006

Lisboa, menina e moça...

Decidi ir passear pela Baixa lisboeta.
Meti-me no típico amarelinho autocarro da carris e ali fui eu, desde o Campo Pequeno até aos Restauradores. O trânsito estava caótico, as pessoas impacientes (se soubessem como isto me transtorna de há uns tempos para cá...), a correria do costume deixa-se observar pela transparência(?) das janelas do meio de transporte que escolhi.
Passo pelo Saldanha, Picoas (e vejo o meu prédio lá bem escondido atrás do Palácia; sim, porque sou muito fina, dizem por aí...), Marquês e páro, ou melhor, o amarelinho pára. O caos que se instalou nesta zona (cheguei à conclusão que está assim desde que vim para o primeiro ano da faculdade....) é arrepiavelmente insuportável. Se quero sair na paragem para minha casa tenho quase que dar a volta è rotunda para atravessar a estrada. "O túnel vai abrir em Março", diz Carmona Rodrigues. "Tá bem tá", digo eu e a maioria dos lisboetas. Pede ajuda ao Santana Lopes pá! Ai não, ele provavelmente já deve ter dado a desculpa de que o estado desta zona da capital foi resultado da conspiração contra a sua pessoa, feita por Cavaco Silva/Jorge Sampaio/Marcelo Rebelo de Sousa - o trio maravilha. Passemos à frente que isto dá pano para mangas.
Finalmente chego à Avenida da Liberdade. E como é bonita!Sim, pode bem ser a Avenida mais poluída do mundo, mas não deixa de ter o seu encanto. Os varredores procuram deixar a cidade um pouco mais limpa (uma árdua tarefa tantas vezes menosprezada...), esquerda, direita, pá, vassoura, contentor. A cara triste e desgastada. Um semblante deveras penoso. Uma menina morena, de olhos castanhos passa por um varredor e diz-lhe adeus, sorrindo. O homem retribui, e julgo ter visto naqueles olhos bem escuros, um brilho que se seguiu de um sorriso, que mal deu para ver os dentes. (O senhor condutor parou o transporte público para efectuar a troca de turno).
Desço um pouco mais da Avenida e vejo um casal de namorados (por volta dos 20 anos) à espera do autocarro na paragem. Brincam, fazem cócegas um ao outro, sorriem e dava para ver que eram felizes. A alegria era tão contagiante que, quando olhei para a senhora que estava ao lado, também ela sorria (mas a medo, disfarçando não fosse poder ser crime compactuar com tal demonstração de amor e carinho). E sorri (não, não disfarcei, portanto podem bem ter-me tomado por louca), e olhei para o fundo da Avenida. O amarelinho paráva nos Restauradores ("façam o favor de sair", diz o motorista) e eu saí.
Encaminhei-me para o Rossio. Passei pela Rua Augusta, pela Rua do Ouro e a correria era mais que visível. Eu ia devagar, estupidamente devagar diga-se. Estava na esperança de poder ver as luzes de Natal acessas, mas a minha mãe telefona-me e informa-me "Não filha, em Lisboa só se acendem dia 1 de Dezembro"..."rais-parta" a contenção de custos! A Baixa tem outro sabor no Natal. Tem outro cheiro. Tem outro paladar. E eu só queria que as luzes estivessem acessas para que o ambiente fosse ainda mais perfeito! Tive que me contentar com o facto de todos os artefactos já estarem expostos.
Fui até ao Terreiro do Paço, ou Praça do Comércio, como lhe queiram chamar. Senti o cheiro do Rio Tejo (sim, ao longe, mas senti) e sentei-me. Continuei a observar a correria. Será que ninguém tem pelo menos uns minutinhos para se sentar um pouco, para parar e não fazer nada? Depois lembrei-me que estava na capital, "onde tudo acontece". E lembrei-me que devia estar a fazer qualquer coisa para a faculdade (pois é, devia!). Mas a Baixa chamou-me e eu nunca lhe digo que não. Porque hoje, sou mais lisboeta.
Porque hoje não me imagino sem esta correria (que tanto me transtorna). Porque também eu corro tantas vezes (embora quase nunca o deseje). Porque aprendi a gostar desta "confusão". Voltei para casa a pé. Assim é mais fácil sentir-te...
(Para vocês, que estão longe, matarem um pouco as saudades...)

domingo, setembro 10, 2006

Regresso


Regressei. Depois de seis meses em terras italianas voltei para o meu cantinho “à beira-mar plantado”. Escrevo só agora por talvez me ter faltado a coragem de o fazer antes. Por ter medo de reavivar aquilo que, agora, parece não ter passado de um sonho. Apercebi-me que estava errada. Se falar disso sei que não foi um sonho, e posso dizê-lo a mim própria todos os dias.
Todos os dias há qualquer coisa que me faz lembrar Erasmus. Muitas vezes guardo-o para mim, pois muitas das pessoas que me rodeiam não iriam perceber aquilo de que estou a falar, a pensar, a sentir, a ter saudades. Falaram-me em depressão pós-erasmus…não quero pensar que seja isso. Mas tenho saudades, não o posso negar. É como se tivesse ficado em mim um “bichinho” que me diz para partir, para sonhar, para me aventurar, para abrir mão, para voar, para dançar, para gritar, para fazer algumas das coisas que deixei para trás sem me aperceber e, principalmente, sem saber porquê.
Assim, a cada dia que passa tenho um desejo novo, um novo objectivo, um “amor diferente”, um desejo insaciável de fazer tudo aquilo que me enriquecerá. E desta vez, não vou deixar nada para trás. Vou correr sem medo e conseguir. Porque eu quero, porque eu sei que é o melhor, porque eu o sinto. Vou voar, gritar, sonhar e reaprender tudo aquilo que deixei esvoaçar por entre receios e desleixos.
Um dos meus maiores desejos era poder dar a todos aqueles que me rodeiam um bocadinho daquilo que vivi, aprendi, cresci…mas não posso. A experiência é única e, por muito que fale, que grite, que “passe a mensagem”, só eu, e quem o viveu, poderá ter uma noção do que foi…e do que é.
“(…) vivia todos os dias, desde que regressara, com saudades cortantes desse ano, por saber que jamais voltaria a viver o que por lá experimentara. De tudo o que se recordava com um aperto no coração. Daqueles tempos, sentia falta da liberdade, do desprendimento, da novidade constante que era o dia-a-dia, da cumplicidade entre todos, do divertimento, da amizade…
Sempre que relembrava esses tempos, procurava transformar cada episódio numa reminiscência viva, real e palpável (…).” António Paisana, in Erasmus de Salónica.
É este o sentimento. Felizmente, para nosso bem, foi também este sentimento que nos fez crescer, mudar, enriquecer e…sonhar.
A vocês, que partiram ou vão partir para esta aventura, não se deixem levar por este lado um pouco mais triste da história. Fiquem felizes por saber que daqui a uns meses vão poder partilhar connosco a vossa experiência erasmiana…porque quando vocês voltarem, vamos estar aqui, sabendo exactamente cada bocadinho daquilo que estão a sentir.
Para vocês…*

terça-feira, julho 11, 2006

La partenza

Ho dimenticato di dire "ciao" quando stava partindo...
Perché tutti quello che ha passato sembrava impossibile di finire, di fermare...
Era quello che voleva...comunque, a Portogallo mi aspetavano con tanto amore che era impossibile dire "non tornerò più"...
Siena: ti ricorderò sempre, nel mio cuore, nel mio sangue, nella mia vita!
Piazza del Campo: che mai posso dire di te?Senza parole...
A voi: Vi voglio bene e mi mancano tutti!
*

sexta-feira, junho 23, 2006

ahhhhh

"It's not a question but a lesson learned in time..it's something unpredictable, but in the end is right..."
Estou novamente diante de um plano de estudos bastante duro mas a concentração está um pouco ou nada em baixo...tensão alta, tensão baixa, será que não podia ser só uma? Coração acelerado, suores frios, cansaço, olheiras, sentimento de incapacidade...tudo isto e mais um pouco.
Sim, não é um dia optimista (apesar da frase inicial, desta música que tanto me diz nestes tempos que passam...), ou melhor, não é um dia propriamente positivo. Deixei de ser pessimista (ou pelo menos tento pensar que sim). Para quê?
Vou à janela, sento-me no parapeito e observo o movimento desta pequenina cidade, mas que sabe tão bem o sentido de rumor (são os camiões do lixo às 7h da manhã quando tenho que deixar as portadas abertas porque tá um calor de morrer, são as obras a começar as 8h da manhã e que perturbam o bom ambiente da cozinha, são os tambores das contradas, todos os Domingos, as 11h da manhã, depois de uma bela noite de "divertimento"...qual não será a sensação?). Fico à janela, pois a vontade de voltar para o mundo do jornalismo italiano egocêntrico e nacionalista é muito pouca ou nenhuma...
E volta o cansaço, as olheiras, o sentimento de incapacidade...
Mas Erasmus não é só brincar e, por isso, vou voltar para a mesa da cozinha (lá vou ter que suportar o barulho das obras...) e estudar um pouco, se conseguir. Falha-me a concentração. Falha-me o incentivo e a motivação. Tudo seria mais fácil se não fosse aqui.
(...)
"I hope you had the time of your live..."
Dito e feito.

quarta-feira, junho 21, 2006

Saudades...

Red Hot Chili Peppers - Otherside

How long how long will I slide
Separate my side
I don't I don't believe it's bad
Slit my throat
It's all I ever

I heard your voice through a photograph
I thought it up and brought up the past
Once you've gone you can never go back
I've got to take it on the otherside

Centuriees are what it meant to me
A cemetery where I marry the sea
Stranger things could never change my mind
I've got to take it on the otherside
Take it onTake it on

How long how long will I slide
Separate my side
I don't I don't believe it's bad
Slit my throat
It's all I ever

(...)

Porque sim...*

segunda-feira, junho 12, 2006

Eu quero...

Porque é nestes dias em que se deve estudar e concentrar que me apetece escrever por tudo e por nada. Falta menos de um mês para toda esta aventura acabar e, quando penso nisso, sinto uma multiplicidade de sentimentos contraditórios. Por lado, a saudade que sinto das pessoas, dos lugares, das coisas que deixei “para trás”. Por outro, a saudade que também sei que vou ter destes momentos que vivi aqui em Itália, das pessoas que conheci e das experiências partilhadas. Volto a frisar, é um mundo aparte.
Estava sentada na minha secretária a resumir uns apontamentos de Marketing e a vontade que me dá é sair pela janela fora e voar um pouco, saborear o vento que hoje está um pouco mais forte…pode ser que ele me leve para longe destas tarefas que tão pouco me agradam. Mas como não tenho asas (e o vento não pode comigo) decidi escrever…
Sentimentos contraditórios, o coração bate mais rápido, a alegria, o espaço vazio…queria um balão voador, pode ser? Quando era pequenina acreditava piamente no Pai Natal, até ao dia em que comecei a perceber que as prendas não vinham da chaminé no dia 24 à noite (sim, porque eu tenho uma chaminé), mas iam sendo postas uma a uma, até ao dia da ceia de Natal. Mas não faz mal. Agradeço a quem me fez acreditar nesse ser que tanta alegria ainda hoje dá a tantas crianças no Mundo.
Poderia certamente afirmar que este texto está um pouco ou nada confuso mas como, por vezes, gosto de ir escrevendo o que penso o resultado foi este. Pouco me interessa. São pedacinhos de mim, partes do meu mundo que gosto de partilhar (mesmo que ninguém leia o que escrevo). Gosto de pôr tudo cá para fora quando sei que depois me vou sentir um bocadinho mais leve (não totalmente, porque há coisas que não podem ser partilhadas).
Tenho saudades dos meus pais, do meu mano, da minha casinha, da minha caminha, da comidinha portuguesa, das idas ao restaurante, dos almoços em família ao fim-de-semana, das brincadeiras do meu irmão, das brigas, dos meus primos “grandes”, dos meus priminhos lindos, dos meus tios…dos aniversários cheios de gente. Ai, aquele balão voador…
E depois corria, por entre prados inexistentes, por entre rochas difíceis de escalar, por entre rios sem maré, tudo em busca de um desejo insaciável de qualquer outra coisa que não esta. Não quero estudar. E, por isso, divago e vou procurando um alento…continuo a achar piada à ideia do balão voador! Acho que vou, mas não sei se volto…

terça-feira, maio 30, 2006

O mundo a meus pés...


Sento-me numa cadeira pronta para escrever. Um pedaço qualquer de papel perdido na imensa desorganização da gaveta da minha secretária. Não importa. É meu. Decido que vou escrever qualquer coisa. Pego no papel, olho para qualquer outro lado. Não tenho caneta, esqueci-me dela em casa. Não faz mal. Estou em Erasmus, não preciso propriamente de uma caneta. Precisava sim de uma memória filmica para poder guardar cada momento aqui passado.
Estou há muito tempo para escrever sobre esta grande aventura. Mas faltam-me, talvez, as palavras certas para descrever tudo aquilo que queria. Os momentos que passamos 24 sobre 24 horas, as risadas sem nexo, as brincadeiras malucas, as noites de loucura, as visitas tão desejadas, as partidas (por vezes dolorosas), as viagens, as novas amizades, as novas descobertas, os novos ensinamentos, as novas aprendizagens, o sentimento de “crescer”, de ser mais do que aquilo que éramos…e tantas outras infinitas coisas que poderia continuar aqui a descrever.
Se tivesse que voltar atrás não posso dizer que não faria o mesmo. É tão diferente, tão fora de tudo. É como estar numa espécie de “férias” em que tudo acontece ao máximo, em que tentamos aproveitar todos os minutos, todos os segundos, todos os milésimos de segundos. E não é apenas pela diversão, pelo “relax”, mas por todas as outras coisas que estão para além do explicável…talvez aqueles que decidam partir para esta aventura possam perceber aquilo que tento explicar.
Temos ainda pela frente um mês, que provavelmente vai ser o mês mais intensivo de toda esta nossa passagem por terras italianas. Neste momento, esta casa na Via Pispini nº3 é a minha casa, onde tenho as minhas coisas, onde durmo, onde me encontro comigo mesma, onde choro, onde “grito”, onde rio, onde partilho, onde festejo, onde também tenho saudades, onde passo horas e horas a fio…e, por isso, não quero já sentir a sua falta e de tudo o que ela me proporcionou e ainda irá proporcionar. Quero senti-la hoje, com tudo aquilo que ela tem. Porque também esta casa, e todos aqueles que nela habitam, passaram a fazer parte de mim (algumas ainda mais), a preencher ainda mais o meu coraçãozinho de manteiga…porque todos eles (tenho a certeza) partilham de todos estes sentimentos comigo.
Obrigado a vocês (que sabem bem quem são) por me terem ajudado em todos os momentos em que me senti um pouco mais sem força (não que não adore estar aqui, mas porque como romântica que sou, tenho tendência a deixar que as saudades me abalem um pouco mais), obrigada pelos sorrisos conjuntos, pelas noites tão bem passadas, pelos conselhos “estéticos” (esta é só para vocês minhas Torres), pelo “passe-parole” do Carpe Diem, por aturarem as rabugices, pelas conversas, pelo crescimento (que tenho a certeza que foi conjunto), por me “destressarem”, pela abertura de mentalidades, por tudo aquilo que dizemos uns aos outros sem medo e sem receio, porque as amizades são assim.
E porque Erasmus é muito mais do que isto e fico triste por não poder passar mais daquilo que sinto. Porque o que sinto agora é muito mais do que aquilo que consigo escrever. A memória filmica não é facilmente transportável para uma folha de papel e, por isso, deixo-vos, mas só por agora. Se pegasse em tudo o que já vivi e pudesse fazer um filme era tão mais fácil, tão mais alegre. Saber que poderia reviver esse filme a qualquer altura.
E quem sabe se não? Talvez qualquer dia me atreva…
Vou ter saudades tuas, Siena.
(Como uma verdadeira romântica)

sexta-feira, maio 26, 2006

Abraço

"Mais uma vez um abraço, aquele abraço de sempre
Aquele abraço que sente o que para sempre é segredo
Impaciente segredo e suave presença perdida em nós, despida em nós ..."

Aquela estrela

Porque quando duas pessoas se unem por tamanho laço a destruição não é fácil.
Estás longe, distante, mas cada vez mais sei que é contigo que vou ficar.
Porque o "mais" se resume a uma questão de tempo. Porque o tempo é aquilo que nos separa.
Porque o tempo é aquilo que nos irá unir...como dois corpos que bailam ao som da areia que voa.
Porque tu és como um mar que vejo ao longe, mas que desejo incessantemente.
E, um dia, vou ser novamente uma das tuas ondas, a maior de todas elas.
E aí, o destino está traçado, passamos novamente a ser inseparáveis.
Como aquela estrela, sabes?Aquela que brilha mais que todas as outras...sim, é a nossa.
Apeteceu-me. Pronto.
*

segunda-feira, maio 08, 2006

O beijo


Ouvi-te bater à porta. Pé ante pé, abri-a. Deixei-te entrar no silêncio da madrugada sem qualquer tipo de receio. A noite anterior estava estrelada e calma. Tinha estado contigo uma hora antes ao pé daquele murinho que nós tão bem conhecemos.
Tinha-me despedido de ti com um beijo suave, demorado e delicioso. Deixei que “me levasses” contigo e disse-te “adeus, até amanhã”. Tu, com um sorriso matreiro e com aquele teu olhar encantador disseste “Sim, até amanhã…”
Entrei em casa, vesti o pijama, bebi um copo de água. Sentei-me a ver as estrelas. Aquelas que, ainda há poucos minutos, tínhamos estado a observar os dois. E, naquele momento, queria que estivesses ali para me abraçar, para me confortar, para seres o meu refúgio. Ao longe, senti o mar, aquele cheirinho tão característico e do qual tantas vezes tenho saudades.
Neste momento, vieram-me à memória pequenos episódios de infância. Os sorrisos marotos, as asneiras que (tantas vezes) fazia, os passeios com a família, o tempo livre, os sonhos por despertar, as fantasias de uma criança com toda uma vida pela frente. As pequenas memórias de tempos em que não havia qualquer preocupação (só a de levantar-me o mais cedo possível de forma a conseguir o melhor lugar para ver os desenhos animados; mas até isto não soava como preocupação, mas sim diversão).
Enquanto me perdia nestes meus pensamentos infantis que tanto me alegram, observava um cisne, na sua imensa beleza, dançando no lago que tanto apreciamos. Despreocupado, leve e harmonioso bailava ao vento, como se nada o pudesse disturbar. E como ele bailava…
E assim, no seio de toda esta harmonia, bateram à porta. Eras tu. Deste-me a mão e sorriste, como quem diz “amo-te” sem precisar de o dizer. Deste-me um beijo na testa e levaste-me para bem longe dali. Corremos os dois sem direcção, sem rumo, perdidos, ou talvez não. Estávamos os dois onde queríamos estar…onde ninguém nos encontrasse. Onde até nós não pudéssemos adivinhar o caminho para voltar.
E ali ficámos. À beira de um qualquer mar, sentados numa qualquer areia, a assistir ao nascer do sol, como duas crianças que acabam de se conhecer e que querem explorar tudo de uma só vez. O sol nasceu. Demos um beijo. O beijo. E depois, sorrimos, como quem não precisa de dizer mais nada. Estávamos ali os dois. Os dois, o sol, a areia, e um qualquer mar.
E de repente, bateste à porta. Eu abri. Sorriste. Abraçaste-me. E eu senti-me protegida, como desejava. Adormecemos os dois. Juntos. Mas antes, demos o beijo. Como aquele à beira-mar, lembras-te?

quarta-feira, abril 19, 2006

Pequeno resumo

Não sei bem por onde começar, sobre o que escrever. Tanta coisa se passaram nestas últimas semanas que podia estar aqui a escrever eternamente. Como sou bastante preguiçosa e não me apeteceu escrever o texto antes de o pôr aqui ("aborrece-me", como diria a Letizia), vou escrever aquilo que me vai surgindo.
Um dos meus, digamos, desejos sempre foi ter uma janela enorme daquelas altas, onde tivesse espaço para me encostar de lado (não sei se me estou a fazer entender) e simplesmente ficar assim. A olhar para o céu. A pensar. Sem mais nada à minha volta. A verdade é que vim encontrar essa mesma janela no meu quarto, aqui em Siena. Melhor do que isso é o sol que paira por lá todo o dia. Que me aquece o corpo e, muitas vezes, o coração que sente falta de tudo um pouco. Mais curioso é o facto de poder observar uma árvore que antes de brotarem as folhas fica branca como neve. Embora isto seja normal, a árvore é a mesma do que uma que eu sempre amei desde pequenina e que vejo da minha janela da cozinha. Foi uma árvore que sempre me disse qualquer coisa e agora, aqui em Itália, reencontro-a para preencher um pouco a saudade.
Há coisas estranhas e engraçadas ao mesmo tempo.
Tenho a sensação que já não sei escrever português. Parecemos todas umas emigrantes que voltam para o país de origem e já não sabem a língua materna. Então quando se escreve tudo parece estranho. A tentação de dobrar letras é quase inevitável e de "italianar" as palavras portuguesas então...
As últimas semanas têm sido uma aventura: visitas, passeios, frequência, borgas, sol na Piazza Del Campo, Roma, borgas, passeios, enfim...Temos uma vida muito complicada e fartamo-nos de trabalhar, como obviamente dá para perceber. Pessoalmente, estou a adorar toda esta aventura! Conhecer novos sítios, rever outros, conhecer pessoas, trocar experiências, construir amizades verdadeiras e cúmplices...enfim, tudo o que Erasmus pode dar de bom a uma pessoa. Um conselho: se estiverem na dúvida...não estejam!Façam Eramus!
Quero tentar construir um texto com nexo mas a minha cabeça já está a pensar no que vou fazer a seguir e aqui (faculdade) não é propriamente um sítio onde possa pôr as minhas ideias em ordem, calmamente.
Deixo-vos com este pequeno amontoado de informação e com a promessa de escrever o mais brevemente possível, com cabeça, tronco e membros.
P.S. Tenho saudades de tudo aí.

quarta-feira, março 15, 2006

Um pouco mais...

Muitas vezes me disseram que sou ansiosa, responsável demais e extremamente organizada. São algumas das coisas que também me irritam a mim própria (quando excessivamente "aplicadas"). No entanto, são aquelas pequenas coisas que são mais difíceis de mudar (por muita que seja a vontade).
Hoje encontro-me em Siena. Uma cidade pequena, pacata, calma, pouco barulhenta, com pouco movimento. Digamos que o oposto de Lisboa, a cidade que corre, que é barulhenta, imensa como um labiritinto (não é que não goste de Lisboa porque gosto, mas sinto que traz ao de cima aqueles pequenos defeitos que eu não gosto em mim).
Parece que Siena estava à minha espera para me acalmar um pouco, para me mostrar caminhos diferentes daqueles que me habituei a percorrer. Aqui ando sem pressas, penso muito menos no tempo, nas horas (a não ser quando estamos em aulas), vivo mais despreocupadamente. Pode não ser para sempre, mas há-de ser uma boa experiência e, como todas as experiências, vai deixar os seus frutos a meus pés. Um dia poderei colhê-los e abraçá-los, deixar para trás aquilo que menos gosto em mim.
E Siena vai-me fazer bem (tenho a certeza) pois o desejo de "abrir as asas e voar" é muito grande, mesmo que o medo de cair também esteja lá. O desejo de ser mais, de querer mais, de poder ser mais. E vou ser mais. Todos nós deveríamos querer um pouco mais, deixar o sonho falar mais alto.
E como eu sou sonhadora...
Só que desta vez, o sonho é real.
E agora, se me derem licença, vou voar. Vou ser um pouco mais. A cada dia que passa.

sexta-feira, março 03, 2006

Últimos incidentes em Siena

Depois de duas semanas alojadas num hotel (graças à bela da promoção), com malas espalhadas pelo quarto, longas caminhadas para tratar de todos os assuntos e mais algum, chegámos à "nossa casinha" - a residência italiana.
O apartamento tem três quartos duplos e um "singola" (acho que já não sei falar português). No primeiro quarto estão as minhas duas companheiras. Na "singola" em frente está um austríaco. No quarto duplo que se segue, um japonês e um francês. Por último, estou eu (sozinha num quarto enorme que poderá vir a acolher muitos portugueses). Como se já não bastasse termos que falar italiano (sim, porque de inglês os italianos percebem pouco, ou nada), temos que tentar treinar o nosso francês e agora sim, o inglês (não vou tentar perceber o japonês lol). Uma mistura de línguas, culturas e costumes. Como diria a Sara, "todos diferentes, todos Eramus".
Apesar de morarmos todos na mesma casa, a vida é muito diferente. As horas de acordar não são coincidentes, as aulas (para quem já as começou) também não têm as mesmas horas e nem todos almoçam/jantam em casa (a cantina é muitas vezes o mais cómodo).
Ainda pouco conhecemos desta nova experiência mas esta planópia de culturas vai certamente ser positivo nesta nossa experiência de Eramus.
Entretanto as aulas já começaram. A língua é bastante compreensível e os professores também parecem ser acessíveis (excepto, talvez, uma versão da "drogadita" que é de Milão e que se veste sempre de preto). Os alunos, entenda-se aqui os italianos (Eramus não é aluno lol), são do mais aplicado que se pode imaginar. Normalmente as salas estão sempre cheias e como não costuma haver lugar, meia hora antes da aula começar lá estão eles sentadinhos de canetinha na mão para se mostrarem extremamente aplicados (estão a ver o trio de conversadoras integradas nestas aulas?lol).
Dos italianos que já conhecemos a simpatia é a palavra que os caracteriza. Um povo alegre com bastante sentido de humor. Siena é, digamos, uma pequena cidade na qual se sentem um pouco presos por não terem tanta diversão quanto gostariam. No entanto, há falta de melhor, há sempre os belos dos jantares caseiros com muito vinho (pena que eu não seja grande apreciadora) e muita alegria.
Foram também estes italianos que quando respondemos "Siamo de Scienze della Comunicazione" nos disseram (acompanhado de um riso matreiro): "Ahhh..Scienze della Colazione", ou seja, Ciências do Pequeno-Almoço. Isto tudo porque na cidade de Siena parece que quem frequenta esta curso tem o hábito de não estudar muito e de ter muito boas notas (não que isso nos afecte muito lol). Quanto melhores notas melhor não é verdade? (passo a redundância).
E pronto, por agora penso que é tudo (pelo menos aquilo que mais me marcou). No próximo (ia escrever prossimo, por isso vejam a confusão de línguas que tenho na cabeça) fim-de-semana vamos a Florença, para mais uma aventura.
E para vocês que me acompanham todo o santo dia, obrigada pela forcinha e pelos momentos tão divertidos. Vai ser tudo inesquecível!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Adoramos

Adoramos passear suavemente através dos grãos de areia.
Adoramos observar o pôr-do-sol em sintonia.
Adoramos "braços" apertados.
Adoramos fazer sofrer o outro com um ataque mortífero de cócegas. Até não mais poder.
Adoramos lanchar pãozinho com manteiga (eu da Matinal e tu da normal, mas às postas).
Adoramos sorrir um para o outro com aquele olhar de desafio.
Adoramos ver futebol (e torcemos pelos mesmos!).
Adoramos enrolarmo-nos na mantinha e adormecer agarradinhos.
Adoramos acordar um ao lado do outro.
Adoramos brincadeiras malucas (tu mais que eu!).
Adoramos fazer refeições um para o outro.
Adoramos um aperto de mão.
Adoramos os beijos.
Adoramos o pintas e o pingas (o que seria de nós sem eles?).
Adoramos os sorrisos.
Adoramos as pequenas coisas (muitas vezes tão incompreendidas).
Adoramos os pequenos defeitos um do outro (porque o amor é isso mesmo).
Mais que tudo, adoramo-nos um ao outro.

(Um miminho para ti, espero que gostes).

domingo, fevereiro 19, 2006

Siena

Uma pequena cidade com mil encantos.
As estreitas e pequenas ruas abrem caminho para grandes sonhos e grandes aventuras.
Novos conhecimentos. Uma lingua nova que eu adoro. Um povo simpatico e alegre.
Espero-vos aqui junto de mim para conhecerem também um pouco deste mundo maravilhoso que ainda agora comecei a conhecer.
Um beijo. Amo-vos.

(Desculpem a falta de alguns acentos, mas nao existem em italiano).

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Até já

E aqui estou eu perante esta "folha de papel" sem conseguir descodificar aquilo que sinto cá dentro, numa tentativa de conseguir pôr em palavras o que se atravessa na alma.
Vou para Siena, Itália. Parto amanhã com expectativas altas, mas com algum sufoco neste meu coraçãozinho de manteiga. Tento pensar que lá o tempo vai passar a voar e que tudo vai ficar bem, e é isso que me mantém feliz.
Vou partir para esta aventura de "armas e bagagens" e espero que seja, acima de tudo, inesquecível. Quem me acompanha vai ter que me aturar bastante (como diria o meu irmão: "Vou sentir falta de duas coisas: de ti e do teu mau feitio"- é sempre bom), mas também sabe que vai poder contar comigo para tudo (não é Torres?).
Deixo um "até já" sem demoras para os que ficam. Para a família, um beijo caloroso. Para os amigos do coração, um abraço apertado. Para ti meu amor, um beijo e um "amo-te" como só tu os sabes receber.
Ficam e eu parto. Mas o meu coração leva-vos comigo. Sempre. Até porque é só um "até já".
Beijos para vocês que "partem" comigo.
Até já (e não, não é publicidade à TMN).
Adoro-vos.
Vou sentir a vossa falta.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Um dia especial

Dia dos namorados...
Não percebo quando dizem que "é só mais um dia", "está tudo virado para o consumismo".
Na minha opinião, tal como se faz a tudo nos dias de hoje, procura-se encarar este dia como um dia igual a todos os outros em que brilha a luz ofuscante do consumismo.
Quem ama sabe que não é assim. E pode, sem peso algum na consciência, oferecer um presente...observar mais um sorriso de alegria. Mas também sabe que não é aquele presente que faz a diferença, mas o amor desse mesmo gesto. Romantismo a mais? Chamem-lhe o que quiserem, é assim que encaro este dia.
E o amor que está no gesto de dar (seja uma prenda ou uma demonstração de amor) é o que realmente conta. É o dia em que, mais do que todos os outros dias, se celebra o amor. Não o sinto como "mais um dia", mas como um dia em que dou ainda mais de mim para ver quem amo mais feliz ainda.
Provavelmente tecerão poucas ou nenhumas considerações sobre esta singela divagação mas, para mim, é sincera. Assim como o verdadeiro amor.
Por isso me identifico tão bem com o "Elogio ao Amor" de Miguel Esteves Cardoso.
Porque lá está tudo (ou quase tudo) o que penso.
E assim, de forma pura e feliz, te digo, sussurrando "Amo-te". Mais uma vez.
Vou sentir a tua falta.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Recordações

Os dedos entrelaçam-se com força. Pé ante pé, percorrem toda a cidade e sorriem para todos aqueles com que se cruzam. Exploram todas as pequenas ruas sobre as quais tantas vezes já tinham caminhado, mas sem olhar com atenção. Encontram pequenos sinais dos tempos que passam, cruzam o olhar, encolhem os ombros, sorriem e seguem novamente pela cidade.
O relógio não pára (tique-taque…tique-taque) mas o tempo parece não existir no seu mundo. Ele enche o peito de amor e suspira, ao de leve, palavras mágicas que enfeitiçam o coração. Ela, procura a palavra certa para conseguir resumir tudo aquilo que a faz respirar e gritar ao mundo de felicidade. Enquanto ela procura, seguem caminho.
Foram dar a um parque rodeado de pequenos jardins. Cada jardim tinha plantado uma espécie de flor. Eram quatro: um de rosas, outro de tulipas, outro de cravos e outro de frésias. As rosas eram amarelas, as tulipas lilases, os cravos vermelhos e as frésias brancas. Não procuram encontrar uma explicação. Sentaram-se e observaram cada um dos jardins. Não comentaram e cada um guardou para si aquele momento. Fecharam-no à chave e a mais ninguém pertence. Levantaram-se e sorriram um para o outro. As palavras foram desnecessárias.
Foram deixando pegadas de um caminho incerto no terreno de terra batida que ficava para trás. As pegadas estavam unidas pela sombra das suas mãos entrelaçadas e, quem ali parasse via, certamente, um rasto de amor. Não é fantasiar, é imaginar duas pegadas unidas por algo que não se vê, mas que existe. É importante que se preserve as pegadas, que se procure conservá-las o máximo de tempo possível, para que também se conserve a magia, o amor.
E foi isto que este homem e esta mulher fizeram até ao final das suas vidas. As mãos entrelaçadas não permitiram apagar cada momento daquele dia em que viajaram pela cidade e encontraram pequenas coisas que alimentaram a magia. Hoje, já velhinhos, ele volta a encher o peito de amor e volta a enfeitiçar-lhe o coração (“amo-te”, sussura). Ela, durante todos estes anos foi-lhe preenchendo cada dia com um pouco mais de si mesma, dando sempre o máximo que lhe era permitido. Hoje, percebeu que apenas lhe bastava dizer: “Leva-me para junto daqueles jardins novamente.” Sussurou-lhe ao ouvido, enquanto ele a olhava nos olhos e sorria. Ambos apagaram a luz e caminharam (pela última vez) para junto dos jardins.
As mãos entrelaçadas, as pegadas conservadas. Os jardins. Foram felizes. São felizes. Estão bem guardados à chave no meu coração. E não vos vou esquecer.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Simplesmente feliz

Uma nuvem de paixão. Uma imensidão de sentimentos percorre-me. Sinto-me bem. Sinto-me verdadeiramente feliz. Como já há bastante tempo não sentia. E por alguma razão (que não sei bem explicar) apetece-me gritar aos quatro ventos. Apetece-me explodir de alegria e aproveitar cada segundo deste estado de espírito que me invade.
Dizem que sou romântica. Não o nego. Não o menosprezo. Agradeço esta característica que me faz ver as coisas de um outro modo. Não sei ser de outra forma. E sei que esta parte de mim não vou (nem quero) mudar. Sei que nem sempre é bom mas no fim…vale sempre a pena. E sinto isso. E isso faz-me feliz.
A simplicidade das mais pequenas coisas tem-me mostrado que na vida é esta mesma simplicidade que devemos preservar. Podemos idealizar mas não nos devemos deixar consumir por essa idealização. Podemos querer que seja de outra forma. Podemos querer mudar tudo. Podemos tudo, mas muitas vezes o que mais queremos está naquilo que não achamos ter valor, naquilo que pensamos não ter sentido. Mas tem.
Procurar na simplicidade a felicidade. Não é contentarmo-nos com pouco. Mas sentirmo-nos verdadeiramente felizes por ter aquilo que mais queremos junto de nós. E dar-lhe valor. Estará a fazer algum sentido aquilo que escrevo? Quero pensar que sim. E quero sentir que cada palavra vos dá um pouco mais de mim. Que em cada palavra que escrevo vos mostro um pouco mais do cantinho que guardo em mim.
E quero que a voz da felicidade chegue até vocês. Para que sintam também a minha felicidade. Que é também vossa. Porque a felicidade não é um bem que se possua individualmente. É construída. E não é fácil juntar todos os pedaços. Mas essa é a sua magia. E aquilo pelo qual luto. Por isso me sinto feliz. Porque sou todos vocês num só cantinho do mundo. O meu mundo. Que vocês ajudaram também a construir. Obrigada.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Floco de neve

E de repente, o país cobriu-se de neve. Os carros ficam brancos, as estradas escorregadias, as mãos geladas. O fascínio de umas horas diferentes, em que algo de inesperado nos assalta o pensamento (ou a sua ausência).
A neve cai. Faz frio. Os pés como que encolhem à procura do aconchego. Mas está tudo frio. Não sinto o rosto, os olhos custam a abrir. E quem diria que ia ver neve antes de voar até Itália? E logo o coração aperta. Itália…Itália (oiço-te logo a bater).
E o frio passa cá para dentro. A ânsia mistura-se com a saudade que vou ter (já tenho) de tudo o que se vai passar. De tudo o que vou perder. Não total, mas parcialmente. A vivência. O incógnito.
Neva dentro de mim. E sinto cada floco de neve a derreter, a escorregar pelo meu corpo, a gelar cada bocadinho do meu ser. Não que Itália vá ser “fria”, mas sei que vou estar um bocadinho menos quente. Talvez o calor que mais falta me faz. A certeza.
O sol espreita por detrás das nuvens carregadinhas de frio. Os raios surgem, a pouco e pouco. O gelo derrete. Sinto-o no corpo. O sol aquece o dia. E fico menos gelada. Não totalmente quente. Há-de ser assim em Itália. Quente, mas não totalmente. Fria, mas não completamente. Os raios de sol espreitam. O voo está quase a partir.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Amar.


Fomos à praia naquele dia e observámos o pôr-do-sol juntos, mais uma vez mas, agora, com saudades. Deixámos marcas na areia, como um testemunho de um laço que ali passou, devagarinho, sem tropeçar.
E as ondas daquele mar que tanto respeito estavam zangadas e batiam forte contra as rochas, que tantas vezes amenizam a sua raiva. E nós ficámos a observar cada pormenor deste semblante maravilhoso e especial. Porque esta praia será, sem dúvida, a nossa praia de sempre, para sempre.
As mãos entrelaçavam-se com amor, dos nossos olhos uma cumplicidade distinta sobressaía, desprezando o que nos rodeava. Estávamos só nós e, ali, naquele momento, só o “nós” interessava, só o “nós” nos fazia ser felizes. Limitávamo-nos a sentir o que dali provinha, uma magia que nos encantava, um pôr-do-sol esplendoroso que estava em sintonia com a nossa paixão. Quantas vezes penso se a paixão ainda existe…Mas há momentos em que essa pergunta se esvanece e se vai embora com o vento, com os olhares de cumplicidade. Porque nesse momento eu sei. Tu sabes. Vivemos um para o outro. Independentemente de tudo o resto. O mundo está lá fora e nós vivemos nesta pequena concha que nos protege, não de tudo, é certo. Mas não nos pode proteger de tudo, só daquilo que receamos: perdermo-nos um do outro.
Disso ela protege-nos, o mar protege-nos, aquele pôr-do-sol protege-nos. A nossa troca de olhares garante-nos a permanência. Garante-nos a necessidade de amar. O conforto de um amor que não é simples. Não é fácil. Não é perfeito. Mas o amor não é nada disto. Como todos nós, o amor é complexo, o amor é difícil, o amor não é perfeito. Porque somos nós que o construímos e somos nós que o alimentamos. A ilusão da perfeição é apenas isso, uma ilusão. A nossa batalha está em procurar melhorar a cada dia que passa, procurar amar mais a cada dia que passa, procurar ser o melhor possível. Assim será também o nosso amor, não perfeito, mas o melhor que temos dentro de nós, o melhor que podemos e queremos oferecer.
E continuamos a caminhar na areia, a sentir aquela “comichão” que nos faz correr o sangue pelas veias. Caminhamos a contemplar o pôr-do-sol e vêmo-lo a descer, a desaparecer, a dizer “adeus, até amanhã”. Mas não queremos que ele parta, porque também um pouco da nossa magia parte com ele. Porque é com ele que somos um bocadinho mais felizes, é com ele que damos um pouco mais de nós. Ficamos, assim, com a praia, com as ondas furiosas, com as rochas, com as conchas.
Ficamos connosco. O olhar de cumplicidade. O desejo de um amor ainda maior. Um amar sem medidas, sem limites. Amar sem ter medo de cair, sem pensar, sem dor. Porque o momento é importante e deve ser vivido da melhor maneira. Eu quero e vou fazê-lo. Como disse, o novo caminho está traçado e é contigo. Porque sem ti, a praia faz menos sentido, o pôr-do-sol perde um pouco da sua magia e, sem ti, o “nosso” amor passa a ser só meu. Hoje, sei que não será assim. Que o nosso amor é nosso. Nosso. Não meu.
Fecha os olhos. Eu estou aqui. E deixo-te um beijo para que acredites. Amo-te.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Folha de papel

O meu coração é uma folha de papel. Nela vou escrevendo pequenas estórias que me deliciam o espírito e que me atormentam a alma. Nela vou-me descrevendo em pequenas peças de um puzzle que procuro acabar, mas do qual falta sempre um pouco.
Não costumo ser muito optimista mas quero mudar isso. O pessismismo põe-me doente. Faz-me mal. E eu quero estar bem.
A folha de papel está a olhar para mim. Exige atenção. E eu quero dar-lhe atenção. Quero acariciá-la como se ela me espelhasse um pequeno sonho, cheio de grandes alegrias.
A folha de papel está cheia de rascunhos. Pedaços de tantas outras coisas que não deviam estar lá. Mas estão.
Vou apagá-las e recomeçar a escrever. Sem sombras, sem duplos sentidos.
Escrever contigo. Partilhar contigo. Um céu estrelado cheio de mil rabiscos que invadem este meu cantinho e me preenchem um pouco mais. Porque tu és assim.
Porque o novo caminho está traçado, está escrito. E é contigo.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Sentir

Suspiro ao de leve. Contenho a respiração. Procuro ar.
Ar livre. Ar puro. Ar simples. Ar aconchegante.
Escrevo e parece que não me entendo. Mas quero escrever. Porque preciso.
Talvez haja uma razão para escrever assim sem nada dizer. Mas também não quero falar.
Escrever basta. Já me sinto melhor. E ainda não disse nada.
Confuso?Para mim já não.
Paro para pensar. Esclarecer. Desmistificar algo tão simples.
Vou. Quero. Consigo.
Um ponto final nesta história que não está mais presente em mim.
Finalizar algo que não me vai atormentar. Porque já não atormenta.
Não procurem perceber. Não quero que percebam.
Quero apenas escrever. Escrever sem fim.
Deitar, a pouco e pouco, o que tenho cá dentro.
Aproveitar o que é bom. O resto deito fora.
Já o utilizei. Já não preciso mais.
E se precisar, hei-de ter sempre a minha memória.
Quero "pôr quanto sou no mínimo que faço", como diria F. Pessoa encarnado no seu heterónimo Ricardo Reis.
E como ele escrevia tudo tão claro. Tão nítido. Tão simples. Como o ar que procuro.
E como ele escrevia tudo tão abruptamente. Como se rasgasse os sentimentos. Como se aspirasse ser a brisa, mas só se contentasse em ser o vento. Porque ele escrevia tudo de uma maneira que eu nunca conseguirei escrever.
Mas continuo a escrever. Não quero ser o Pessoa. Mas gostava de, por um dia apenas, conseguir o que ele conseguiu.

Passagem das Horas
"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que quero.
(...)
Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira."
Álvaro de Campos

Porque assim é tudo mais fácil.
Sentir tudo.
E não sentir nada.
Acabei de escrever. Pouso a caneta.
Adormeço.
E sinto tudo.