terça-feira, novembro 28, 2006

Lisboa, menina e moça...

Decidi ir passear pela Baixa lisboeta.
Meti-me no típico amarelinho autocarro da carris e ali fui eu, desde o Campo Pequeno até aos Restauradores. O trânsito estava caótico, as pessoas impacientes (se soubessem como isto me transtorna de há uns tempos para cá...), a correria do costume deixa-se observar pela transparência(?) das janelas do meio de transporte que escolhi.
Passo pelo Saldanha, Picoas (e vejo o meu prédio lá bem escondido atrás do Palácia; sim, porque sou muito fina, dizem por aí...), Marquês e páro, ou melhor, o amarelinho pára. O caos que se instalou nesta zona (cheguei à conclusão que está assim desde que vim para o primeiro ano da faculdade....) é arrepiavelmente insuportável. Se quero sair na paragem para minha casa tenho quase que dar a volta è rotunda para atravessar a estrada. "O túnel vai abrir em Março", diz Carmona Rodrigues. "Tá bem tá", digo eu e a maioria dos lisboetas. Pede ajuda ao Santana Lopes pá! Ai não, ele provavelmente já deve ter dado a desculpa de que o estado desta zona da capital foi resultado da conspiração contra a sua pessoa, feita por Cavaco Silva/Jorge Sampaio/Marcelo Rebelo de Sousa - o trio maravilha. Passemos à frente que isto dá pano para mangas.
Finalmente chego à Avenida da Liberdade. E como é bonita!Sim, pode bem ser a Avenida mais poluída do mundo, mas não deixa de ter o seu encanto. Os varredores procuram deixar a cidade um pouco mais limpa (uma árdua tarefa tantas vezes menosprezada...), esquerda, direita, pá, vassoura, contentor. A cara triste e desgastada. Um semblante deveras penoso. Uma menina morena, de olhos castanhos passa por um varredor e diz-lhe adeus, sorrindo. O homem retribui, e julgo ter visto naqueles olhos bem escuros, um brilho que se seguiu de um sorriso, que mal deu para ver os dentes. (O senhor condutor parou o transporte público para efectuar a troca de turno).
Desço um pouco mais da Avenida e vejo um casal de namorados (por volta dos 20 anos) à espera do autocarro na paragem. Brincam, fazem cócegas um ao outro, sorriem e dava para ver que eram felizes. A alegria era tão contagiante que, quando olhei para a senhora que estava ao lado, também ela sorria (mas a medo, disfarçando não fosse poder ser crime compactuar com tal demonstração de amor e carinho). E sorri (não, não disfarcei, portanto podem bem ter-me tomado por louca), e olhei para o fundo da Avenida. O amarelinho paráva nos Restauradores ("façam o favor de sair", diz o motorista) e eu saí.
Encaminhei-me para o Rossio. Passei pela Rua Augusta, pela Rua do Ouro e a correria era mais que visível. Eu ia devagar, estupidamente devagar diga-se. Estava na esperança de poder ver as luzes de Natal acessas, mas a minha mãe telefona-me e informa-me "Não filha, em Lisboa só se acendem dia 1 de Dezembro"..."rais-parta" a contenção de custos! A Baixa tem outro sabor no Natal. Tem outro cheiro. Tem outro paladar. E eu só queria que as luzes estivessem acessas para que o ambiente fosse ainda mais perfeito! Tive que me contentar com o facto de todos os artefactos já estarem expostos.
Fui até ao Terreiro do Paço, ou Praça do Comércio, como lhe queiram chamar. Senti o cheiro do Rio Tejo (sim, ao longe, mas senti) e sentei-me. Continuei a observar a correria. Será que ninguém tem pelo menos uns minutinhos para se sentar um pouco, para parar e não fazer nada? Depois lembrei-me que estava na capital, "onde tudo acontece". E lembrei-me que devia estar a fazer qualquer coisa para a faculdade (pois é, devia!). Mas a Baixa chamou-me e eu nunca lhe digo que não. Porque hoje, sou mais lisboeta.
Porque hoje não me imagino sem esta correria (que tanto me transtorna). Porque também eu corro tantas vezes (embora quase nunca o deseje). Porque aprendi a gostar desta "confusão". Voltei para casa a pé. Assim é mais fácil sentir-te...
(Para vocês, que estão longe, matarem um pouco as saudades...)

6 comentários:

ARN disse...

É da correria dos lisboetas mal-humorados e suados, é da calma do Tejo onde hoje o sol de inverno se fez espalhar,é do frio da Baixa com cheiro a castanhas quentes, é de...é de... é que eu gosto! Eu gosto de opostos! E LISBOA é o meu oposto favorito!!!bj, finalmente voltaste do mundo dos mortos (só mesmo Lisboa para nos inspirar!)

Deb disse...

Não imaginas como de há dois meses para cá tudo isso me toca mais. Porque tu já o sentes e deves imaginar a diferença que faz ter mais 18 anos "disso".
É definitivamente a minha cidadezinha. Em qualquer estação do ano - mas preferencialmente em Junho:).
Lamento dizer que este ano precisava mesmo de não estar aí, sob essa luz-artificial do Natal. vocês sabem. E por saberem é que desejava por tudo que vocês pudessem saborear a magia do Natal aqui, com aquele "vapor" gelado a sair da boca constantemente e com as bebidas quentes a ganharem um sabor especial
Obrigada por este mimo. Foi um autêntico presente de Natal.
E saboreia os mal-humorados, porque pelo menos manifestam-se ;). Aqui, mãos nos bolsos e boca fechada é a regra.
Mas como somos animais de hábitos, aos poucos começamos a gostar do que antes não gostávamos, oder?
Danke, danke, danke.
Liebe Grüsse

Anónimo disse...

Amiga queridinha
Senti bem dentro de mim a homenagem que fazes a "nossa grande cidade" e os miminhos que nos dás (as que estamos longe) por contares com tantos pormenores o que ves (coisas das quais tenho tantas saudades)...

Sabes que ja muitas vezes fiz esses passeios pela Avenida da Liberdade (eu costumo desce-la...lol) e tambem muitas vezes me sento no terreiro do paco...so mesmo para cheirar o Tejo ou sentir a brisa da "maresia"...acho mesmo que nesses fins de tarde os meus dias tem um sabor mais especial!!!

Gostava muito de, quando voltar, fazer esse passeio contigo...
Assim, aposto, vamos poder choramingar nos ombros uma da outra...numa especie de "despedidazinha" sentida de uma cidade que passou a dizer-nos tanto e que nunca mais vai desaparecer das nossas vidas!!
Topas??

beijo enorme***adorei:)

Anónimo disse...

Oh miuda andas a dar informação errada: as luzes já tão acesas (ou pelas ja tiveram no fds), pq eu ja as vi :p (agora ela vai teimar cmg q tive uma alucinação. A iluminação de Natal deste ano para mim é a mais bonita de todas e acaba por conseguir preencher (em parte claro) a falta de luz provocada pela ausência da totalidade das vocc's.
Adoro esse passeio que cada vez fazemos mais. Há de chegar o dia em que desceremos a Av.da Liberdade toda a pé, com as mãos cheias de sacos daquelas modestas lojinhas (tinha q levar po lado do consumismo :P).
Podemos chegar sempre à conclusão que era mais rápido ir de metro. Mas se o repetimos, é bom sinal. é sinal que apesar da correria a que nos obrigam, ainda conseguimos optar pelo lado mais belo e calmo da vida. E não há nada como contemplar ;)
Besos

ARN disse...

atenção, atenção: eu tb quero ir descer a avenida com vocês!

Anónimo disse...

É sempre bom quando alguém que também sabe o que é estar longe nos brinda com estes mimos e nos conduz num passeio que nunca nos pareceu tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Gracias por eso. Besos