segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Recordações

Os dedos entrelaçam-se com força. Pé ante pé, percorrem toda a cidade e sorriem para todos aqueles com que se cruzam. Exploram todas as pequenas ruas sobre as quais tantas vezes já tinham caminhado, mas sem olhar com atenção. Encontram pequenos sinais dos tempos que passam, cruzam o olhar, encolhem os ombros, sorriem e seguem novamente pela cidade.
O relógio não pára (tique-taque…tique-taque) mas o tempo parece não existir no seu mundo. Ele enche o peito de amor e suspira, ao de leve, palavras mágicas que enfeitiçam o coração. Ela, procura a palavra certa para conseguir resumir tudo aquilo que a faz respirar e gritar ao mundo de felicidade. Enquanto ela procura, seguem caminho.
Foram dar a um parque rodeado de pequenos jardins. Cada jardim tinha plantado uma espécie de flor. Eram quatro: um de rosas, outro de tulipas, outro de cravos e outro de frésias. As rosas eram amarelas, as tulipas lilases, os cravos vermelhos e as frésias brancas. Não procuram encontrar uma explicação. Sentaram-se e observaram cada um dos jardins. Não comentaram e cada um guardou para si aquele momento. Fecharam-no à chave e a mais ninguém pertence. Levantaram-se e sorriram um para o outro. As palavras foram desnecessárias.
Foram deixando pegadas de um caminho incerto no terreno de terra batida que ficava para trás. As pegadas estavam unidas pela sombra das suas mãos entrelaçadas e, quem ali parasse via, certamente, um rasto de amor. Não é fantasiar, é imaginar duas pegadas unidas por algo que não se vê, mas que existe. É importante que se preserve as pegadas, que se procure conservá-las o máximo de tempo possível, para que também se conserve a magia, o amor.
E foi isto que este homem e esta mulher fizeram até ao final das suas vidas. As mãos entrelaçadas não permitiram apagar cada momento daquele dia em que viajaram pela cidade e encontraram pequenas coisas que alimentaram a magia. Hoje, já velhinhos, ele volta a encher o peito de amor e volta a enfeitiçar-lhe o coração (“amo-te”, sussura). Ela, durante todos estes anos foi-lhe preenchendo cada dia com um pouco mais de si mesma, dando sempre o máximo que lhe era permitido. Hoje, percebeu que apenas lhe bastava dizer: “Leva-me para junto daqueles jardins novamente.” Sussurou-lhe ao ouvido, enquanto ele a olhava nos olhos e sorria. Ambos apagaram a luz e caminharam (pela última vez) para junto dos jardins.
As mãos entrelaçadas, as pegadas conservadas. Os jardins. Foram felizes. São felizes. Estão bem guardados à chave no meu coração. E não vos vou esquecer.

1 comentário:

Susana disse...

Gostei muito! :)
Especialmente das "pegadas unidas por algo que não se vê, mas que existe". Puxaste-me pela imaginação assim à grande! Adoro qd me fazem isso!!! :D

Vê lá se em Itália continuas a escrever aqui para eu poder ficar ainda com mais saudades tuas do que se não te lesse! ;)

Bacio*