sexta-feira, setembro 25, 2009

"O que há em mim é sobretudo cansaço"

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

(Obrigada.)

quinta-feira, setembro 24, 2009

Sabes uma coisa?

Hoje não me chega.
Não me chega.
E bastava um simples gesto.


terça-feira, setembro 15, 2009

Enquanto

Quando me disseste "um dia", fiquei à espera, abraçada a um conforto que não conhecia, que queria conhecer, mas sim, sabendo, tendo consciência, a saber, que nada pode deixar de ser enquanto é. Agarrei-me a esses pedaços de pequenas coisas que poderiam vir a ser mundo, que ela gostava que fossem, mesmo sem ter a certeza, a saber, nada pode deixar de ser enquanto é. E não foi mais do que isso, que quis ser entre precalços, pedaços, fantasias, as palpitações constantes que acalmas com suavidade, pode deixar de ser enquanto o é. Por isso, o querer, perto bem perto, ser conquistada, acho que sim, que já tinha falado nisso, ela tinha até insistido, com medo, deixar de ser enquanto o é. "Um dia" podem ser instantes, achou ela que seria isso que ele queria dizer, por entre palavras de conforto, suavidade sentida, de ser enquanto o é. Ela dormia entre aspas, sim entre aspas, o resto pairava, suavemente, com delicadeza, ser enquanto o é. Ele fica à espera da definição, do momento em que ela se decida, espera, era ele. As palavras sairam trocadas, enquanto o é. Hoje, ela, ele os dois, ficam a pairar. É. E ponto.

terça-feira, setembro 08, 2009

Querer

Há muita coisa que não controlamos. É normal que assim seja, às vezes até agradecemos que se passe assim. Depois, há os dias em que gostávamos de poder gritar, responder, bater mesmo, porque não? Sim, é verdade. Gritamos, pelo menos cá dentro. Sente-se o amargo de boca. Acho mesmo que percebo a ideia de sofrer com as injustiças. Estranho, não é? Irónico, diria antes.

Mas é melhor que fiquemos por aqui. Não onde ele quer que estejamos. Mas onde ele pensa que nós estamos. Mandar à merda. É isso. Chamar filho da puta. Mas não. Porque há os merdas. E esta vontade imensa de deitar cá para fora. De sentir. É isso, sentir. É bom. Faz-me querer. E isso, poucos se podem dar ao luxo. É engraçado como nunca deixei de querer. É bom sinal, não é? Mandar à merda. E sorrir. Deixar para trás. Um passo atrás. Dois em frente. Porque se ganha assim.

Porque sabe melhor assim. Chamar filho da puta. E no final, depois da confusão. Depois das palavras. Depois das lágrimas. Chamar filho da puta. E sorrir. E pode parecer agressivo. Pode. Mas não é. É facilidade de expressão. Prefiro chamar-lhe isso.

Felizmente, aquele não é o mundo real. Aquele não é o Mundo. Chamar filho da puta. E pensar no sorriso. Ultrapassar-me. Prefiro chamar-lhe crescimento. Mas é como o amor, é fodido.

E é bom.