quinta-feira, dezembro 24, 2009

Criança

Estava um dia frio. Gelado mesmo. Pelo menos para quem está habituada ao clima latino. Mas a igreja, por norma também gelada, estava nessa tarde bem quente. As velas, as pessoas, o ambiente. Ouvia-se com atenção o entoar dos cânticos. E reparou numa rapariga morena, de olheiras profundas. Transmitia dor no olhar. Saudade. Tristeza.

Naquela igreja, quente, não conseguiu fixar o olhar em mais ninguém. Apenas naquele olhar, no qual as lágrimas começam agora a brilhar. Não está à vontade, o olhar perdido. Quer o abraço que já não pode ter. Continua a olhar, para cima, para alguém que já não está cá. Cabelos encaracolados, negros. Bem negros. Talvez tenha catorze anos. Pode até ter dezasseis. Vinte. Aquele olhar tem cinco, quatro, três. É um olhar de criança perdida, de saudade dos tempos de infância. De quem procura desesperadamente conforto. Algum mimo.

Sim, é Natal. Mas não tem a ver com isso. A perda é recente. E deve doer. Dói. Porque agora deixa que as lágrimas escorram pela face, encosta a cabeça a um ombro amigo. Não seria aquele que procurava. Nem se quer era o ombro que queria.

Gostava de ter tido coragem para lhe dar um abraço. Para lhe dar força. Para que o conforto que ela procura pudesse ser minimizado. Mas limitei-me a olhar. E a chorar também. Arrependi-me de não lhe ter dado um pouco do que tenho. Mas aquele olhar, perdido. Aquele olhar, de criança. Está cravado em mim. Um nó. Bem forte.

Desculpa.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Linhas

Eu até gosto de te ver pela janela. De te sorrir enquanto me esperas. Dizer adeus em tom de provocação porque sei que não vais estar no "até já". Todos queremos o impossível. Mas às vezes, estamos tão perto, tão perto. Que irrita não poder chegar lá.

Mesmo quando temos aqueles momentos. Que sim, que são do outro mundo.
É quase impossível. E, por isso, às vezes amarga.