segunda-feira, agosto 02, 2010

Na linha do mar


Começámos com poucas linhas traçadas. Sem espaço para mexer os pés e com um pequeno saco para o lixo. Fomos seguindo até ao mar. Esperámos pelo ferry. Com óculos à venda numa fila quase pequena para tantos vendedores que ali tentavam a sua sorte.

Medusas. Sem golfinhos. Visitámos com pouca vontade aquilo que alguns desejaram construir para ganhar dinheiro. Felizmente, está deserto. Como o deveriam ter deixado. E seguimos para um pequeno paraíso: água clara, banho refrescante, livros, petiscos. Descobertas de sentidos, diferenças, semelhanças. E a língua preguiçosa. A inglesa, entenda-se.

Praias desertas. Ou quase. Encontros que se julgam impossíveis. Milhares de pores-do-sol (se se pode escrever assim), pelo menos do que me foi deixado captar. Aquele em que a criança brincava com a mãe e tiravam fotografias. Ele só queria nadar. Aquele em que famílias regressavam. Aquele em que a prancha delineava o horizonte. Aquele em que gaivotas procuravam terra. Aquele em que do alto conseguia tocar o sol. Aquele em que, ao final do dia, assistia tranquilamente à chegada dos peixes. Depois de uma hora a puxar cordas. Sim, foram vários.

Partilha-se tudo. Até a impaciência matinal. Ou o mau humor. Atura-se tudo. Porque nada tem assim tanta importância. Importa absorver tudo. Guardar tudo em compartimentos que receamos não conseguir encontrar. E escrevemos.

Conversas à noite. Sobre tudo aquilo que nos ocupa diariamente. Não falo de trabalho, porque não tocámos nesse campo. Explorámos as diferenças, as expectativas. E tudo tem mesmo a ver com isto: expectativas. As que criamos. As que imaginamos como reais. As que sabemos que nunca terão lugar. Ou terão, mas faltará sempre o pormenor. As que, de repente, vemos que são partilhadas.

Pois é. O amor não é perfeito. As relações não são perfeitas. Sim, o cliché: "nada é perfeito, porque assim perderia a graça". Mas talvez não queira dizer perfeita. Sou um pouco mais de mim quando vejo as coisas de forma mais racional. Eu que nem sou assim. Mas dói menos. E gostei de vos ouvir assim. Sem complexos.

Gostei dos subsídios estatais. Das casas-de-banho gratuitas. Dos parques. Do calor. Daqueles pores-do-sol. Dos finais de tarde. Dos jantares tardios. Do cheiro a terra. Do rolo de papel higiénico. Do chão duro. Do cheiro a mar. Dos litros de água. Dos cremes. Das gargalhadas. Do senhor estranho que tentava adivinhar nacionalidades. Das sardinhas. Da sapateira. Do frio. Do mar. De nos perdermos. De nos encontrarmos. Até daquele nevoeiro estúpido de filme de terror.

Gostei.

2 comentários:

Deb disse...

Nada como descer rumo ao nosso mar e partilhar historias de vida e culturas diferentes. E contigo ao volante esse rumo so ganhou ainda mais charme:) gostei muito muito muito muito! Agora tens de escrever uma versão em Ingles ;)

Andreia disse...

Estás uma campista feita. Ao ler o texto fiquei cheia de vontade de mandar a cadeira para trá, ir buscar o carro e arrancar para uma das maravilhosas praias da costa vicentina só para ver o pôr-do-sol.