quinta-feira, outubro 28, 2010

Saudades tuas.

Soube, em conversas que surgem quando menos esperamos, que não quiseste lutar. Desculpa, que não quiseste mais sofrer. Disseram-te o que tinhas e, conscientemente, optaste por não te (nos) fazer passar por aquilo que pensavas ser sofrimento desnecessário. Hoje, sei que se sou parecida com a alguém, só pode ser contigo.

Detestavas estar doente. Tinhas fobia. Desaparecias do mundo e ficavas no teu canto. Soube, naquela conversa, que optaste de forma corajosa - há, de certeza, quem tenha outra opinião -, que não querias acabar assim os teus dias. Conseguiste jantar connosco no dia de Natal e ver-nos a sorrir - ainda que estivesses no teu canto - pela última vez. E guardo de ti, entre memórias felizes, esse dia de Natal, em que todos estavam com receio. Menos tu, que não querias sofrer. Que não nos querias dar falsas esperanças.

Sabes, nunca te disse o quanto me fazes falta. Nunca tive oportunidade de o fazer, porque quando esperava voltar a ver-te, disseram-me que já não estavas. "Já?" Não podia ser, porque eu queria-te dar mais um beijo. Mais um abraço. Dizer-te o quanto te admiro. Sim, ainda hoje. Dizer-te, hoje, quantos pedaços de ti vivem hoje em mim. Que me fazes mesmo falta.

Recordo-me daqueles gritos autoritários quando não te deixávamos estar em paz contigo. E até isso eu guardo com carinho, consegues perceber? Foste cedo demais - não vamos todos? E não me conseguir ir despedir de ti. Espero que me perdoes. Sabes que tenho fobia. Como tu. Que para mim não faz sentido. Não fazia sentido ver-te assim. E espero que percebas que prefiro aquela última imagem do dia de Natal.

Guardo de ti a memórias das tuas mãos enormes. Da forma como as esfregavas. Das sardas e dos sinais que as preenchiam. E da tua força. Sei, que nesse ano, herdei também um pouco dessa tua garra. E que ficaste feliz por isso. O Tomás disse que quando morresse queria ser pintado de azul. Preferia o azul ao teu amarelo. Ele tinha cinco anos. E são as coisas que guardo na memória ainda hoje.

Não, não é nenhuma data especial. Hoje, senti-me com forças para matar saudades tuas. Para te recordar de novo, com calma. Serenamente. No meu canto. Pouco tempo depois de saber que decidiste o que querias. E, não me expliques porquê, mas isso deu-me uma imensa sensação de tranquilidade. Estou mais perto de ti agora.

E, sim, continuo com umas saudades imensas. De quando ralhavas comigo porque me tapava com os lençóis antes de adormecer. Eu tinha medo, ainda hoje tenho. E tu, receavas que sufocasse. Era assim que dizias que me amavas.

1 comentário:

MaB disse...

hoje foi dia de pôr a escrita em dia. Saudades tuas, também. imagino eu.*