
Sento-me numa cadeira pronta para escrever. Um pedaço qualquer de papel perdido na imensa desorganização da gaveta da minha secretária. Não importa. É meu. Decido que vou escrever qualquer coisa. Pego no papel, olho para qualquer outro lado. Não tenho caneta, esqueci-me dela em casa. Não faz mal. Estou em Erasmus, não preciso propriamente de uma caneta. Precisava sim de uma memória filmica para poder guardar cada momento aqui passado.
Estou há muito tempo para escrever sobre esta grande aventura. Mas faltam-me, talvez, as palavras certas para descrever tudo aquilo que queria. Os momentos que passamos 24 sobre 24 horas, as risadas sem nexo, as brincadeiras malucas, as noites de loucura, as visitas tão desejadas, as partidas (por vezes dolorosas), as viagens, as novas amizades, as novas descobertas, os novos ensinamentos, as novas aprendizagens, o sentimento de “crescer”, de ser mais do que aquilo que éramos…e tantas outras infinitas coisas que poderia continuar aqui a descrever.
Se tivesse que voltar atrás não posso dizer que não faria o mesmo. É tão diferente, tão fora de tudo. É como estar numa espécie de “férias” em que tudo acontece ao máximo, em que tentamos aproveitar todos os minutos, todos os segundos, todos os milésimos de segundos. E não é apenas pela diversão, pelo “relax”, mas por todas as outras coisas que estão para além do explicável…talvez aqueles que decidam partir para esta aventura possam perceber aquilo que tento explicar.
Temos ainda pela frente um mês, que provavelmente vai ser o mês mais intensivo de toda esta nossa passagem por terras italianas. Neste momento, esta casa na Via Pispini nº3 é a minha casa, onde tenho as minhas coisas, onde durmo, onde me encontro comigo mesma, onde choro, onde “grito”, onde rio, onde partilho, onde festejo, onde também tenho saudades, onde passo horas e horas a fio…e, por isso, não quero já sentir a sua falta e de tudo o que ela me proporcionou e ainda irá proporcionar. Quero senti-la hoje, com tudo aquilo que ela tem. Porque também esta casa, e todos aqueles que nela habitam, passaram a fazer parte de mim (algumas ainda mais), a preencher ainda mais o meu coraçãozinho de manteiga…porque todos eles (tenho a certeza) partilham de todos estes sentimentos comigo.
Obrigado a vocês (que sabem bem quem são) por me terem ajudado em todos os momentos em que me senti um pouco mais sem força (não que não adore estar aqui, mas porque como romântica que sou, tenho tendência a deixar que as saudades me abalem um pouco mais), obrigada pelos sorrisos conjuntos, pelas noites tão bem passadas, pelos conselhos “estéticos” (esta é só para vocês minhas Torres), pelo “passe-parole” do Carpe Diem, por aturarem as rabugices, pelas conversas, pelo crescimento (que tenho a certeza que foi conjunto), por me “destressarem”, pela abertura de mentalidades, por tudo aquilo que dizemos uns aos outros sem medo e sem receio, porque as amizades são assim.
E porque Erasmus é muito mais do que isto e fico triste por não poder passar mais daquilo que sinto. Porque o que sinto agora é muito mais do que aquilo que consigo escrever. A memória filmica não é facilmente transportável para uma folha de papel e, por isso, deixo-vos, mas só por agora. Se pegasse em tudo o que já vivi e pudesse fazer um filme era tão mais fácil, tão mais alegre. Saber que poderia reviver esse filme a qualquer altura.
E quem sabe se não? Talvez qualquer dia me atreva…
Vou ter saudades tuas, Siena.
(Como uma verdadeira romântica)