sexta-feira, junho 26, 2009

Ponteiros do relógio

Crescemos em cada minuto que decidimos dar um passo em frente. E podias estar quase à beira do precipício. Não faria mal nenhum. Desejamos leves brisas a sentir o Tejo. Observamos as luzes da margem Sul ao pormenor. Detalhadamente. E, de repente,  ouvimos uma música. E recordo-me de quando tinha por hábito gritar a letra alegremente. E volto a fazê-lo. Sabe bem. E crescemos. Sim, somos um bocadinho mais. Porque demos o passo em frente. Como a letra da música que voltamos a cantar. E temos um sorriso no olhar. Tímido. Mas cúmplice.

E não. Hoje não escrevo para ti. Não que não tivesses estado comigo quando olhei para a margem Sul. Aquela que está prometida. E como a pensar que o ritmo das palavras se repete. Como o som dos segundos do relógio. Mas não. Agora estava a falar da margem Sul. E estava-te a recordar que não escrevo para ti. Embora lá estivesses. Sim, era isso que estava a dizer. E agora tu pensas, estás a falar comigo? E continuo a dizer-te que não. Mas estás no ritmo dos segundos do relógio. Talvez percebas se te disser assim. Se te disser que há coisas simples como os segundos do ponteiro do relógio. 

E, por isso, acho que crescemos sempre um pouco mais. Acompanhando os ponteiros. Os segundos. Deixando o olhar preso à margem Sul. Como se lá estivesses. Entendes assim? É verdade. Não estou a escrever para ti. Mas continuo a saber de cor a letra daquela música que canto alegremente. E o brilho nos olhos. É isso. Talvez te procure entre pequenos trechos da letra. Como quem quer um para sempre. Sim, talvez seja isso. Quero sentir  a saudade e amar-te para sempre.

Mas esquece isso. Porque eu cresço acompanhado o ponteiro dos segundos. E ele faz tic-tac. Sem piedade. E, qualquer dia, sem dar por isso, já tolero tudo. Quando der por isso, qualquer dia, já estou a escrever para ti. Quando isso era tudo menos aquilo que queria. Porque eu cresço com o ponteiro dos segundos. E tu não percebes isso. Agora. Pensas que não. Que não vou já para a margem Sul. 

A verdade, é que fiquei por lá. O olhar perdeu-se. Mas a letra da música, essa, continuo a sabê-la de cor. E como estava a dizer, talvez esteja já a escrever para ti. E talvez esteja a amar-te para sempre. Não é um talvez. Estou a amar-te para sempre.

E este é um estado. Não é uma promessa. É crescer com os ponteiros do relógio. É um para sempre murmurado a medo. Porque sim. Porque tenho medo. Se nunca te disse, porque não estava a escrever para ti, ficas a saber por entre os trechos da música.

É isso que te tenho para dizer: que tenho medo.

E isto é crescer. Ao som dos ponteiros do relógio. E, às vezes, é uma merda.

1 comentário:

Anónimo disse...

Continuo aqui.Mesmo que penses que estou acidentalmente.

Este gajo.