segunda-feira, julho 20, 2009

Amor é

Começaram por pequenos gestos. Ele, inseguro. Ela, sem nada planeado. A cada dia que passava ela questionava-se. Não, não pode ser. (Mas era.) E ele pensava, talvez, sem certezas, isso. Não queria. Queria. Hesitações normais de adolescentes. De crianças, pensava ela. Afinal, aos olhos dos pais, tinham sido acabados de plantar. Inocentes, talvez. Não, eles não eram nada inocentes. Pelo contrário, sabiam bem o que queriam da vida. Eram novos, sim, mas tinham sonhos. Tinham objectivos. E já é ter muito nesta idade. Isto pensavam eles, claro.

No carro, olharam-se. Olhos nos olhos. Sorriram genuinamente e pensaram porque não? Tinham as malas, os sonhos e os objectivos. Tinham-se um ou outro. Sim, eram adolescentes. E? Poderiam ter de voltar atrás, de procurar um porto seguro. Mas nada os impedia de voar. Sorriram novamente. E partiram sem destino. Mas era um amor cruel. Uma paixão de criança, daquelas que achamos que são para a vida. Encontraram uma pequena casa à beira-mar. Ele encontrou um trabalho. Ela cozinhava para fora. Amavam-se. Aquele amor que não nos deixa respirar. Que consome. Aquela paixão que sufoca. Sabe bem. "É ter com quem nos mata lealdade", não é?

Criaram um mundo. Uma protecção. Respiravam-se. Sentiam-se. Tinham o dom de se entenderem. Não tiveram filhos. Achavam que o amor assim teria de ser dividido. E aquele era deles. Eles pensavam assim. E até aos oitenta anos tiveram-se um ao outro. Um dia, enquanto dormiam ela despertou. Naquela cama que a tudo tinha assistido, naquele quarto onde se respiraram, cruel não é? Estava a dizer, ela despertou. Passou-lhe a mão na face e disse, muito baixinho, vou-me embora. Vais ter de respirar sem mim. Ele sorriu, pensando ser um sonho. Um pedaço de loucura provocado pela velhice. Ela sorriu.

Não acordou mais. Ele beijou-a de manhã. Os lábios frios. E percebeu que teria de aprender a respirar sozinho. Mas já tinha oitenta anos. Era tarde. O amor era adolescente. Ninguém o tinha avisado que seria assim. A dor. Percebem a crueldade de que falava? É uma prisão eterna. E deixamos de respirar. 

1 comentário:

Sarita disse...

Speechless. ;)