No carro, olharam-se. Olhos nos olhos. Sorriram genuinamente e pensaram porque não? Tinham as malas, os sonhos e os objectivos. Tinham-se um ou outro. Sim, eram adolescentes. E? Poderiam ter de voltar atrás, de procurar um porto seguro. Mas nada os impedia de voar. Sorriram novamente. E partiram sem destino. Mas era um amor cruel. Uma paixão de criança, daquelas que achamos que são para a vida. Encontraram uma pequena casa à beira-mar. Ele encontrou um trabalho. Ela cozinhava para fora. Amavam-se. Aquele amor que não nos deixa respirar. Que consome. Aquela paixão que sufoca. Sabe bem. "É ter com quem nos mata lealdade", não é?
Criaram um mundo. Uma protecção. Respiravam-se. Sentiam-se. Tinham o dom de se entenderem. Não tiveram filhos. Achavam que o amor assim teria de ser dividido. E aquele era deles. Eles pensavam assim. E até aos oitenta anos tiveram-se um ao outro. Um dia, enquanto dormiam ela despertou. Naquela cama que a tudo tinha assistido, naquele quarto onde se respiraram, cruel não é? Estava a dizer, ela despertou. Passou-lhe a mão na face e disse, muito baixinho, vou-me embora. Vais ter de respirar sem mim. Ele sorriu, pensando ser um sonho. Um pedaço de loucura provocado pela velhice. Ela sorriu.
Não acordou mais. Ele beijou-a de manhã. Os lábios frios. E percebeu que teria de aprender a respirar sozinho. Mas já tinha oitenta anos. Era tarde. O amor era adolescente. Ninguém o tinha avisado que seria assim. A dor. Percebem a crueldade de que falava? É uma prisão eterna. E deixamos de respirar.
1 comentário:
Speechless. ;)
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