quarta-feira, abril 14, 2010

A frase

À conversa:

Eu: Se calhar devíamos apostar nisso...

Ela: Sim, à falta de melhor trabalho e de pirilau...

(Dito isto, está tudo dito).

Quero-te assim.

Subimos. Ficámos ali horas, deitados. Entre parêntesis. Parámos em relação ao mundo. Tocámos. Sentimos. Deixámos os medos de lado. Os melros, os pardais, as abelhas (fiquei calma, eu que nunca fico calma com insectos voadores), aqueles-que-não-sabíamos-dizer-o-nome. A serenidade entre buzinas distantes e carros apressados para o trabalho. Percorri-te o corpo. Ou melhor, partes de ti. Segredei-te ao ouvido (Desta vez sem palavras, às vezes fico cansada das palavras, do que repetimos sem ter noção. Cansada mesmo).

Ouviste bem o que te segredei? Guardaste em ti esse instante em que te quis dizer mais, mas que tive medo de te perder novamente? Guardaste em ti o momento em que hesitei dizer o quanto preciso de ti com medo de me dar mais uma vez? Percebeste quando te disse que "não me tinha lembrado de ti" com receio de te esquecer? Entende que tenho medo. De não podermos voltar.

Esse medo construiu um muro. Estou empenhada em fazê-lo cair.
Mas sou capaz de precisar de ajuda.


domingo, abril 04, 2010

Regresso

Chega e estranha sempre o mesmo: procura a língua materna, ouve russo, mas soa-lhe a português. Ouve italiano, mas pensa sempre primeiro na hipótese de ser um português a falar a língua romana. Depois, habitua-se. Uma criança corre ao sol, procura assustar os pombos. Ela percorre as ruas que um dia conheceu, procura o conforto. E encontra. O lugar onde já esteve, que conhece bem, onde se sente um pouco em casa. Ou pelo menos na casa daquele país que não é dela. Mas no cantinho de segurança. Não gosta de viajar sozinha. Detesta.

Isto porque para quem gosta de falar torna-se imensamente doloroso passar um dia inteiro sem trocar argumentos. Sim, ela não gosta de passear sozinha. Não tem nada de mal. Detesta a solidão. Mas isso também não será novidade. Procura então os lugares que percorreu antes. Procura pormenores, histórias. Os rapazes que chamaram isto, a conversa nas escadas na igreja. O lugar onde almoçaram juntas. Procura tudo isso. E fica a ouvir os sons da língua que não é a dela, mas que ela pensa sempre que pode ser.

Uma das coisas que mais estranha é o som. E, pode tudo ser magnífico, pode tudo ser esplendoroso, fora do vulgar. Mas não há nada como sentir o frio na barriga no avião de regresso a casa. As mãos suadas de nervos durante a aterragem. É sempre assim. E o suspiro quando o avião aterra. Ela adora viajar. Adora passear.

Mas o regresso a casa, ao porto de abrigo, é a melhor sensação de toda a viagem.
Tenho dito. Ou tem ela. Tanto faz para o caso.