segunda-feira, maio 16, 2011

Engate

Ele procurou-a por aquelas ruas íngremes e desconhecidas. Roupas estendidas naqueles prédios antigos, roupas cheias de cor, roupas com sabor a vinho tinto, a suor e a corpos molhados.
Espreitou nas esquinas preenchidas com graffitis que falam de política e de sonhos perdidos em promessas falsas e sempre exageradas.
Ele só a quer encontrar. Só lhe quer dizer, eu quero-te agora. Só a quer encostar contra a parede, aquela que tem graffitis, e sentir-lhe o cheiro a perfume caro, aquele que a mãe lhe emprestou. Dar-lhe a mão e seguir com ela de braço dado. Decorar-lhe os sinais do corpo, para poder distingui-la de qualquer outra. E dos lábios, a respiração profunda, ofegante.
Por enquanto, é um sonho. Mas ele não quis escrever na parede. Não o quis tornar um sonho perdido. Porque ele sabe que ela o quer. E, um deste dias, vai encontrá-la. E pedir-lhe para que ela escreva o graffiti deles. Numa árvore daquelas bem velhinhas de um parque de Lisboa. Só para o caso de regressarem. Porque gostam de ir, mas devoram o regresso.