sexta-feira, maio 20, 2011

sem saída.

em estado de ansiedade. assim sem maiúsculas nem qualquer referência ao início, porque ela não queria começar, queria apenas estar. este apenas estar soava-lhe a suficiente, sem necessidade de uma espera desesperada.
apetecia-lhe tocá-lo, sentir-lhe os ossos. não, não tem de ser o início de coisa nenhuma, já te disse. ela não gosta de estórias que começam e acabam. é um flow. e dizer isto assim, de forma nua e sincera, desprendida, deveria ser o suficiente. é apenas estar.
tens medo exactamente do quê?, perguntava-lhe ela. do outro lado, não havia resposta. isso não era suficiente para ela. ela queria apenas estar.
é preciso repetir? estar.
abrir a porta, decorar livros, molduras, pinturas, pedaços daquele mundo fechado a sete chaves que ele gostava de chamar refúgio. deixas-me entrar?, perguntou-lhe.
ele disse, a medo, devagarinho, como quem receia uma intromissão, podes vir. mas devagar.
ela repetiu, e repetiu, que só queria estar.
o ficar era irrelevante.
ele, novamente a medo, resolveu dizer-lhe, se entrares não vais conseguir sair.
são estas as condições. aceitas?
ela murmurou, aceito. é suficiente, reafirmou.
e pensou, sem verbalizar, que talvez fosse demasiado confuso.
mas bastava-lhe o estar. e isso, ele deu-lhe de mão beijada.

3 comentários:

Luria Corrêa disse...

Poxa, que intenso ficou este texto. Gostei muito. Tudo o que tu escreves é lindo, está de parabéns.

Eduardo Santos disse...

Olá Catarina. De breves palavras se escreve um conto, que pode ser contagiante ou não. Os seus parecem ser, por que fui lendo um após outro,como que enleado nas palavras do alfabeto, mas suficientemente livre para apreciar o enredo. Parabéns pelo espaço. Tentarei voltar.

Anónimo disse...

entrem no blog: http://chaoticex.blogspot.com