segunda-feira, maio 09, 2011

Cruzamento

Ele disse que sim, que podia ser. Aceitou um pedido, entre aspas.
Iam-se procurando os dois em letras. Em palavras. Daquelas que provocam calafrios e os deixavam em permanente estado de loucura. Não lhe tinha dito adeus, porque a perspicácia dizia-lhe que ainda lhe podia dizer olá. Em letras pequenas.

Estava a passear na Baixa. Porque lhe faz falta a proximidade daquela cidade durante o dia. Porque ainda não partiu e já sente um vazio provocado pela ausência, pelo vazio que vai ficar. Olhou para o lado e ele estava ali, numa qualquer banca de jornais, a ler as gordas. A consumir informação. Se bem se lembra, talvez estivesse mesmo a conversar com o indiano que vendia jornais. E bilhetes de metro aos turistas.

Passou por ele, olhou, sorriu. Seguiu em frente. Ele sorriu de volta e ficou a fotografá-la com o olhar. Os cabelos compridos que escorregam nos ombros destapados. A pele morena, aquele tom de mel, mesmo antes de começar o Verão intenso. E ficou agarrado àquele gesto: a mão que passou ao de leve no cabelo, como quem o vai prender com um elástico, mas se arrepende no último segundo. Ficou ali preso. Deixou o indiano a falar sozinho por alguns segundos. Se lhe perguntassem, diria que tinham sido horas. Aquele maldito gesto. Que provocação, pensou.

Ela olhou para trás e sorriu. Sorriso malandro como quem sabe o que acabou de fazer. Ele pensou, cabra, mas sorriu. Sorriu-lhe. Foi um adeus. E um até à próxima. Que tenho desejo de ti, pensou ela a morder o lábio inferior.

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